Amor verdadeiro.

Estou constantemente a escrever sobre amor, sobre relações, e sobre quedas menos bonitas que às vezes damos.
Já escrevi sobre o meu pai, as minhas falhas reflectem a minha relação com a minha mãe, e já expus a relação dos meus avós, que me faz querer amar, e ao mesmo tempo ser coração de pedra durante o resto da vida.
Nunca me apaixono pelo óbvio, nunca beijei alguém sem ter o coração a mil, e os meus ideais, bem esses guardo para mim.
Cresci numa cidade pequena, e ao mesmo tempo grande.
Vejo tantos textos dedicados a amigas, e no outro dia pus a mão na consciência e pensei...
"Inês, como é que nunca escreveste alguma coisa para as pessoas que sabem tanto de ti, e mesmo assim te defendem como se não soubessem de nada?".
Eu cresci com a Mafalda.
Ligo-lhe às horas que forem preciso, e não há uma coisa que ela não saiba de mim.
Seja de tentativas frustradas de deixar de respirar, tentativas de deixar de amar, ou só dias em que me apetece calar as pessoas à minha volta.
"Inês, tem calma."
Sabe por quem choro, por quem arranho paredes, e no fim do dia, é sempre a mão dela que sinto nas costas, enquanto me diz "No fim, tudo vai ficar bem."
Viu o pai a morrer-lhe praticamente na frente dos olhos, e desde nova que tem uma dificuldade especial de demonstrar às pessoas o quanto as ama.
Se pudesse escolher hoje um desejo, trazia-te o teu pai de volta.
Gastava nisso, e só nisso.
Nem que fosse só para te ver sorrir o resto da vida.
És a miúda mais bonita que já vi.
Ninguém sabe o que guardas para dentro, eu sei.
Mesmo sem querer.
Cresceu com vozes à volta dos ouvidos, a dizerem que não era boa o suficiente.
Nunca lhe disse na cara, o quanto para mim é melhor que todos os outros que lhe foderam os ouvidos.
Tornou-se a miúda mais bonita do recreio.
E temos o mesmo sangue a correr nas veias.
Pudesse eu voltar atrás, e retirar-te de todos os momentos, em que te magoaram.
A tua mãe é a minha mãe.
O teu pai, é o nosso anjo da guarda.
A Catarina é a miúda mais descontrolada de sempre.
Liga-me quando não consegue falar com mais ninguém, e chora a pulmões abertos.
Nunca vou conseguir gostar de ninguém, que lhe tenha partido o coração.
Porque o dividimos.
No corpo, por dentro, e no pulso.
E por muito que ela tente, nunca me consegue ligar quando sabe que já a avisei a primeira vez.
No dia dos vinte e três anos dela, paguei-lhe uma tatuagem.
Tatuámos um coração, não porque nos vamos amar para sempre, mas porque metemos sempre o amor à frente de toda a gente.
E eu amo-te.
A relação dos pais dela, fê-la ansiosa e pouco segura em relação ao que quer e gosta.
E por muito que o tempo passe, é no meu colo que encontra sempre conforto.
"Porque é que não sou forte como tu?", é o que me diz quando borra a maquilhagem tão cara que comprou.
Nunca se apercebeu, que a maior prova da vida dela, já passou.
O pai.
A Ana, a minha Ana.
Desde pequena que me dizia, "Eu não pertenço aqui".
Odiava andar no meio das pessoas normais, e nunca chorava.
"Odeio que esta gente olhe para mim."
Foi a única amiga até hoje, que me puxava para ser ainda mais forte do que sempre fui.
"Inês, não chores. Ninguém merece as tuas lágrimas."
É feita de pedra, por dentro e por fora.
Com ela, entrei em milhares de lutas, puxámos cabelos, chutámos no ar, partimos copos e caras.
Mas nunca houve cara mais partida, do que a nossa.
Há uns anos atrás sentámo-nos na Igreja do Carmo, com duas garrafas de vodka à frente, e chorámos antes de entrarmos na rua que sempre foi nossa.
"Crescemos Inês, mas os nossos segredos, vão comigo para a cova."
Sempre foste a irmã que nunca tive.
Confusa, instável e tão pouco segura de ti mesma.
"Ana, quando um dia conseguires tudo o que sempre quiseste, eu vou estar aqui, a bater-te palmas e de braços abertos. Vou-te dar as boas vindas, e dizer o quanto te amo."
Ainda estou à tua espera, no mesmo sítio em que chorei no teu ombro e te contei tudo o que fez de mim, o pouco que sou hoje.
Metade de mim, está em Londres.
A Mónica.
A Mónica ensinou-nos o que era ser popular.
" A vida em casa pode ser uma merda, mas na escola, ninguém tem de saber disso".
Sempre foi a mais bonita de todas, e nunca tivemos aquele complexo de gaja de o admitir.
Sim é a mais bonita, a mais pequena, e ao mesmo tempo a mais forte.
Vinte e três anos no rabo, e em todos, tentou sempre agradar quem gostou.
Quando éramos mais novas sentávamo-nos todas num café, e desabafávamos preocupadas com a Mónica.
" Como é que ela consegue ser assim?".
Boa pessoa demais, para quem não era com ela.
Mais do que a menina com o sorriso mais bonito das escadas do Liceu, a miúda que mais lhe custava subir a escadaria.
Nunca foi fácil em casa, então ela saíu de casa.
Limpou as lágrimas, e subiu outras escadas. (Tenho orgulho em ti).
Obrigada e desculpa.
Sempre foste a minha melhor amiga, mas nem sempre soube ser a melhor pessoa para ti.
Matava mil e uma pessoas, se alguma delas te fizesse mal.
Vais ser sempre a mais bonita.
A última, a única.
A Treca.
Conheci-a no meio do amor dos nossos ex-namorados, e foi o único amor que ficou.
Fico agradecida todos os dias por te teres cruzado no meu caminho.
A mulher mais confiante, mais fiel e mais bonita que já conheci.
É impossível não gostar dela, e quem não gosta.. bem.
Não sabe o que é gostar.
Tens as cores todas em ti, e do outro lado do mundo, é a ti que te ligo.
"Treca, estou a morrer por dentro".
E ela apanha o avião, e está de braços abertos para me receber.
"Enquanto cá estiver, ninguém te magoa".
E não magoam, não magoam porque o coração dela é grande o suficiente para se pôr entre tudo o resto.
Foste a melhor pessoa que tive o prazer de conhecer.
E não há luta, guerra, em que não me meta por ti.
Então é isto, no fim do dia.
O que a minha mãe me ensinou.
Uma mão cheia de cinco melhores amigas.
Cinco mulheres, que desde novas trabalharam, estudaram, foram independentes e amaram por dois.
Mulheres que perderam tudo, nasceram bonitas, e na boca de quem nunca conheceu, relacionaram-se com pessoas que nem conhecem.
Cinco mulheres, que vieram de lares quebrados (menos tu Treca) e que ao contrário do que era previsível, lutaram para que um dia, não dessem a ver o mesmo filme aos filhos.
Cinco mulheres, que sabem o quanto sou quebrada e instável ao mesmo tempo, e que me metem a mão à frente da cara, sempre que vou chorar à frente de alguém, que não tem de ver do que sou feita.
Cinco mulheres que sabem para quem escrevo, por quem choro, e por quem tento cuspir os pulmões.
Cinco mulheres, que retiro inspiração, e são a verdadeira razão, para ter criado este blog.
Enquanto alguém me vem dizer que adora o que escrevo, elas riem-se de mim e gritam " Olha se soubessem a atrasada mental que és..."
Graças a Deus, ou o quer que seja que olha por vocês, que se cruzaram comigo.
Trocava-me a mim, por qualquer uma de vocês, sem pensar duas vezes.
A vida nunca foi muito suave para nós, mas todas juntas, passámos por as lombas de garrafa na mão, riso no rosto, e estupefaciente na mão.
Se a vida não me deu irmãs, então teve sempre a razão mais certa de todas.
Vocês.
Gdf

(e não se matem, tirei a ordem à sorte por papelinhos como antigamente.)

Comentários

  1. nunca vai ter o mesmo impacto que os outros, mas é imortal para um amor que se ve.
    só por iso já é bonito.

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  2. A vida nunca foi muito suave para nós, mas todas juntas, passámos por as lombas de garrafa na mão, riso no rosto, e estupefaciente na mão.
    Se a vida não me deu irmãs, então teve sempre a razão mais certa de todas.
    Vocês.

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  3. é injusto para as feias

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