As solteiras do séc XXI.

O meu blog ultimamente tem andado uma deprimência pegada, fruto de um amor estranho e caricato que se cruzou comigo numa altura, em que não se deveria ter cruzado nada.
Fiz uma promessa a mim mesma, que só me voltaria a apaixonar na altura certa.
Depois de viver muito, viajar muito, e cair muito.
Mas as promessas são uma merda, e a vida está sempre a trocar-nos as voltas.
E com tanta troca, fez-me apaixonar cedo demais, sem grandes viagens nem quedas.
Mas porque os holofotes não podem cair sempre sobre a mesma pessoa, e a pessoa em si já sabe tudo o que tinha a saber, lembrei-me de escrever sobre as minhas companheiras de viagem.
As solteiras.
Como escritora que sou, e com um sentido de humor herdado por familiares que sabem tanto da vida como eu, às vezes paro e penso.
Pensar, tornou-se num hobbie, que hoje em dia, começa a ser usado por poucos.
É chato pensar.
E a verdade, é que quanto mais pensamos, mais nos questionamos sobre os lugares onde paramos e as pessoas que se deitam ao nosso lado.
Por isso fechamos essa parte de nós.
A parte que nos mostra e nos diz, o quanto somos infelizes, mesmo quando trazemos um sorriso estampado no rosto.
Eu já fui essa pessoa.
E hoje em dia, já não a reconheço.
Confesso que se pudesse pensava menos, mas se assim o fosse, talvez tivesse muitas histórias de mau sexo e noites estranhas para contar.
Como penso demais, tenho só uma carrada de noites vazias e salas cheias de nada para partilhar com pessoas, que na realidade, não me conhecem.
Pensar mói-nos a cabeça, e todos sabemos que não há ninguém mais critico em relação a nós, do que o nosso próprio pensamento.
Na realidade, por muito apaixonada que esteja ou por muito que me tente encontrar em alguém que quase nunca aparece, estou solteira.
Faço parte das mulheres da minha geração, que por um motivo ou por outro, optaram por ficar sozinhas em vez de viverem relações de fachada e montanha-russa.
Estou solteira há mais de um ano.
Não porque pedi ou porque escolhi, mas passado quase seis anos, deixei-me de ver na pessoa que um dia, achei que iria ser pai dos meus filhos, e mais essas tretas todas que achamos quando estamos apaixonadas.
O amor passou, e ficou uma amizade estranha que se revela constrangedora quando nos vemos.
Não sabemos se nos devemos cumprimentar com um "Olá", ou dar um grande abraço para comprovar que mágoas e rancores do passado, não influenciam a bonita relação que ficou.
O meu ex-namorado é a prova viva do quanto crescemos e mudamos os padrões de pessoas que queremos ao nosso lado, ao longo do tempo.
Se o encontrasse hoje, e nunca o tivesse conhecido ontem, o mais provável seria ficarmos conhecidos em ocasiões de mesas de café.
Mas como foi ontem, ficaram uma data de aprendizagens e manias, que se não as tivesse tido, não teria feito de mim a mulher que sou hoje.
Ter namorado durante tanto tempo, deixou-me fora do mercado do engate de tal maneira, que quando regressei, confesso estar completamente desproporcional ao que me recordo.
As mulheres estão mais bonitas do que nunca, e os homens ganharam um à vontade fora do normal, para as abordarem em situações diversas.
Na noite, o local onde a minha geração se encontra, troca de números de telemóvel e vêm as pessoas que vão acabar no fim da noite, debaixo de luz pouco clara e com música deplorável aos ouvidos, o que se diz, ou como se diz, deixou de ter importância.
Nem se ouve, e nem nos queremos ouvir.
Uma cara bonita substitui gestos bonitos, um grande par de mamas ou um grande cu tem mais valor que os CDS que estão em casa, e os cafés estão vazios de manhã.
Estamos todos a dormir, e pequenos almoços ou almoços, fazem-se em casa, ou com as amigas, para chorarmos sobre leite derramado.
Antigamente quando me sentava ao lado de um grupo de mulheres a um Domingo à tarde, a conversa era sempre a mesma.
"Porque é que ele nunca mais me ligou?"
"Porque é que ele não responde?"
"Porque é que não faz o que diz, e diz o que não faz?"
Hoje em dia, temos a era das mulheres.
Todas bonitas demais, arranjadas demais, confiantes demais, tão fora do normal que quase metem medo.
Escondem-se atrás de sorrisos, de conversa fiada e de olhares vazios, para esconderem medos e cicatrizes de outros tempos.
Fingem de conta não se importarem quando mais uma relação acaba, e quando dão certo, é quase tão pouco normal, que lhes viram as costas.
É mais fácil acreditar que as pessoas falham, do que voltarem a cair de boca depois de voarem tão alto.
Não estamos no tempo das mulheres frias e despreocupadas.
Estamos no tempo em que deixaram de querer corresponder às expectativas, porque são os outros que não as têm de criar.
Depois de tantos anos, e manhãs de cafés com tantas cadeiras para se sentarem, as mulheres aprenderam a não esperar grande coisa dos homens.
São elas que saem de livre vontade, são elas que dizem não conhecerem quem já lhes tocou no corpo, são elas que têm na mão se querem ficar ou sair.
As solteiras do século XXI, sentam-se em grupos grandes, e o objetivo de vida delas passa por serem felizes com elas mesmas.
Depois do primeiro desgosto e do segundo, o amor passa a ser uma coincidência e rasteira do destino, se realmente se esbarrarem com ele.
Agarram-no se assim o for, mas se não for amor, nem for correspondido, a vergonha já não lhes cobre a cara sempre que querem ir a algum sítio.
Amar é bom, mas amarem-se a elas próprias também.
Os exemplos de amor em casa já não são os que queremos ter um dia, porque todas sabemos, o quanto vimos mães e avós segurarem "pontas", pelo bom ambiente familiar.
Não seguramos pontas.
Seguramo-nos a nós.
Estamos na era das feministas, das chefes, das mães solteiras sem vergonha e do orgulho feminino.
Começo a ver mais facilmente duas mulheres rirem-se de alguém que as carimbou, do que puxões de cabelo e discussões sem sentido.
Namorei tanto tempo, e ainda me lembro de me deixar ficar numa relação, porque achava que estar sozinha era o pior castigo do mundo.
Nunca me apercebi, o quanto sozinhas nos podemos sentir, quando temos alguém errado ao lado.
Ser solteira nos tempos que correm pode significar muita coisa, mas mais que isso tudo, pode significar também estarmos bem connosco mesmas.
E não há nada mais bonito, do que nos apaixonarmos pela pessoa que vemos ao espelho.
Nós.








Comentários

  1. Gosto do modo como escreves. Foi uma boa leitura. Obrigado.

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  2. "Estamos no tempo em que deixaram de querer corresponder às expectativas, porque são os outros que não as têm de criar."

    INÊS ALEGRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. "o quanto somos infelizes, mesmo quando trazemos um sorriso estampado no rosto."

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  4. És a voz de tantas mulheres, de tantas miudas e de tantas adolescentes!!!
    És linda!
    Obrigada por dizeres tudo o que não conseguimos dizer, sem medo de represálias ou juízos de valor.

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  5. Boa Inês, boa. Obrigada.

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  6. Gostei Ines, continua assim!!

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  7. alpha fucks / beta bucks. domina um cabrão ou assenta-te com um flácido.

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    1. podes sempre manter o flácido em casa a ver porn enquanto te divertes com cabrões às escondidas. acontece todos os dias. para os dois lados.

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  8. Genial! Quando for grande quero ser assim :b

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  9. Opa lança o livro que tou morta por ler!!! Concordo tanto mas tanto que nem tens noção, não descreveria melhor!! Bravo!!

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  10. Absolutamente FABULOSO!

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  11. Ola Ines :) Comecei a ler-te a muito pouco tempo e estou a adorar o que escreveste e o que escreves pois e tao puro tao verdadeiro que por vezes ate doi. Escrevo neste texto porque me revejo e passo por esta situacao e le-lo ajudou me a acreditar mais em mim e a olhar para a frente. Obrigada muito Obrigada :) Barbara M.

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