Saudade.

Tenho saudades tuas.
Pior, chego a ter saudades daquilo que não somos.
O teu corpo são mil e uma sombras, em corpos que não são o teu.
És tão desajeitado no escuro, e mesmo assim não há luz que apague a tua falta.
Estás em todo o lado.
Na porta do meu trabalho, nas viagens de carro, nas músicas que não ouvimos juntos, e no livro que te escrevi.
Afinal, de quantas saudades és tu feito?
És feito de saudades de Inverno.
De saudades de Primavera, conhecemo-nos na Primavera.
És feito de saudades de Verão.
E agora és Outono.
És saudade em quatro estações.
És saudade dividido em tempos, em dias, e em nada.
O teu corpo, é um amontoado de despedidas minhas.
"Já não te quero mais."
"Já não penso em ti."
"Apaguei-o."
"Apaixonei-me e desta vez, vai dar certo."
Mas é tudo mentira.
São mentiras construídas em cimas de mentiras, que todas juntas constroem a maior verdade de sempre.
O meu amor, e a minha saudade.
Ciências, Física, Psicologia, não podem explicar a dor que se sente dentro do peito, cada vez que quase perco o ar com a falta que me fazes.
Deixei-te ir há tanto tempo, quase que me arrisco em dizer que desde que te conheci, e mesmo assim, as minhas pernas andam sozinhas e correm caminhos que de certa forma, me levam sempre a ti.
À tua sombra, ao teu espaço, ao teu calor, e às minhas metades.
Estar contigo, é estar sozinha com companhia.
Não sei se faz sentido, mas as minhas saudades tornaram-se em ti.
Tu, ao meu lado, quando não estás.
A ouvires o que não digo.
A gostares do que não faço.
De quantas saudades és tu feito?
De Inês.
Toda eu, noutro espaço que não o teu, e em outra vida que não a nossa, sou uma colagem de fotografias, e saudades tuas.
Se calhar se alguém encostar a cabeça ao meu peito, o que se ouve é a nossa música.
Um dia perguntaste-me o que era amor.
É isto.
Estar tão viva, de tão morta que estou.
Afinal, eu nunca soube o que eram saudades.