lê e cala-te

Há uns anos atrás tomei a decisão, meio que inconsciente de abrir as portas à minha vida privada a quem a quisesse ler.
A vida tem-me ensinado, e às vezes nem sempre da melhor forma, a importância de gostar de mim mesma, aliada à força que é amarmos e respeitarmos as pessoas que gostam de nós.
Não tem sido fácil, o caminho que é a aprendizagem de aprendermos a gostar de nós mesmos, e das partidas e quedas que levamos.
É algo que na verdade, ninguém nos prepara.
Essa frase de nascermos sozinhos e morrermos sozinhos, foi feita para os "inconformados" e infelizes que a vida achou pertencer-lhes.
Espero que alguém te diga, que a vida é tua e de mais ninguém, quando achares que o mundo te caiu em cima e já não tens muitas ruas por onde virares.
Há sempre caminhos, há só por vezes quem nos tape os olhos.
A cena mais bonita em escrever, é que consigo ver o quão enorme tem sido esta estrada que nunca escolhi percorrer.
E mesmo que esteja fodida dos pés à cabeça, há uma voz qualquer dentro de mim que me grita que ainda não é altura de arrumar as chuteiras.
Umas vezes certa, outras vezes errada, aprendi a aceitar que nem tudo depende de mim, mas aquilo que depender, caraças se a vou agarrar.
E sim, que se foda e se lixe quem me pôs as correntes nos pés.
Se nasci com a missão de tentar partir pedra até encontrar algo que brilhe, se nasci para ser voz de uma mulher que seja, ou de um homem que se apresente, então se amanhã o meu coração parar de bater ou os meus pulmões acharem que já chega de respirar num ar tão podre, então parto desta merda toda com alguma missão conseguida.
Quando comecei com este blog, disse que não era para esbarrar a felicidade em ninguém, mas para mostrar que quando caísse, ia ter a força suficiente para me levantar.
Então hoje, este texto e as minhas palavras, vão diretamente para quem me fez desacreditar de mim mesma, ou a ti, ou a quem quer que conheças.
Isto sou eu, no meu lado mais cru, a admitir que já morri sem nunca me terem dado a oportunidade sequer de nascer.
As minhas palavras vão diretamente para o grupo de mulheres que se acham mais do que fotografias ao rabo e às mamas nas redes sociais.
Vão para a namorada traída, para a melhor amiga que nunca teve outra em retoma, para o namorado que merecia um pouco mais.
Vão para o velho sozinho, para a mãe solteira, para a rapariga que sofreu de boatos, para a que sofreu de bullying ou para a que se acha gorda demais.
Vai para o gay, para o preto que sempre foi preto demais para chegar onde quer, para o imigrante e para os confusos.
Vai também para quem acha que consegue viver, usando os outros como chão.
Se escolheste ser um Filho da Puta, sabe que a vida, te vai enterrar com ela com o tempo.
Que a solidão e desprezo vão ser a tua sobremesa, e que mesmo que nem tenhas boca para as mastigar, a vida vai-te ensinar, dar dentes de sobra, dias a mais, para que aprendas a ter nada mais que azia dentro de ti.
As minhas palavras vão para as mesmas pessoas, pelas quais criei este blog.
E se por instantes te passou pela cabeça que não pertences cá, fecha esta "janela" porque honestamente e do fundo do coração, não és bem-vindo/a.
Peço imensa desculpa pelo meu lado anti-social, mas não vou fingir amar ou simpatizar com gente vazia para um bem maior, que nunca vai chegar.
O amor pode salvar-nos, pode destruir-nos.
E eu escolhi a primeira opção.
Um coração partido pode mesmo nos salvar.
O meu lado partido, salvou-me para nunca mais me dar de bandeja, a alguém que nunca soube sequer do que era feita.
Mas a escolha é minha e nunca mais vai depender de ninguém.
Aprendi isso sozinha, e só aí vale a pena vivermos connosco mesmos e com os nossos demónios.
E se os meus já falaram alto!
Já ouvi palavras piores de pessoas que achava amarem-me, do que de estranhos da rua.
Se me fodeu de cima a baixo?
Sim.
Se magoei gente que nem devia ter entrado na minha vida?
Sim.
Se magoei quem amo?
Epá, sim.
Se consegui dar a volta ao jogo e por-me a mim como personagem principal outra vez?
Sim.
Não é egoísmo, não é Karma, nem Fé.
Não são nomes pomposos dados por nós, seres humanos, bichos completos e tão vazios de sentimentos.
É a vontade de ser mais do que uma ovelha num rebanho, tão cheio de gente igual e sem nada para dar.
Não tenho mais saudades do meu eu de antigamente, despreocupado de mim própria e de gente que gostasse de mim.
Não tenho saudades de uma miúda arranjada por fora e podre por dentro.
Nem das mentiras, das ilusões, da solidão ou da falta de gostar de mim mesma.
Tenho saudades de quem vou ser amanhã.
A vida é linda, eu é que deixei alguém comandá-la por mim.
Sou a Inês Alegre, e se tiver que gritar alto demais, ou cravar o meu nome sozinha em sítios pouco prováveis, então vou fazê-lo.
Nunca mais serei uma fase, um capitulo, porque de história percebo eu, e o Diabo que me perdoe, mas de escrita também!
Este é o meu livro, o teu, o nosso, e somos nós, que podemos acrescentar ou retirar gente, que nunca mereceu sequer uma menção ou vontade de ser.
Aprendi que ser forte pelos outros, é sempre melhor do que ser forte por quem não é por ti.
Apaixonei-me por alguém real, feito de carne, cheio de defeitos até à cabeça, mas que nunca me virou as costas, largou a mão ou fez menos do que acreditar em mim mesma.
Tenho amor a correr-me pelas veias, e se me partir, parto-me em nome de algo bonito.
Agora sim posso dizer que nasci, e se voltar a morrer, pelo menos soube o que foi respirar.
O amor por salvar-nos, pode destruir-nos.
Mas o amor próprio, é o que me permitiu amar alguém, pela primeira vez, certo.
Por isso o truque não é amarmos alguém que nos faz acreditar que o amor é fácil, é amarmos alguém que nasceu e morreu connosco.
Nós mesmos.