Contigo mesma

Numa altura em que as pessoas se contentam com relações mais ou menos, estou a aprender a ser feliz na que tenho comigo mesma.
Fui educada para ser senhora do meu nariz, dona dos meus caminhos e independente.
Tenho o meu carro, a minha casa, trabalho e estudo ao mesmo tempo, e quando chego a casa o único barulho que ouço é o do meu cão.
As coisas nem sempre são fáceis para as mulheres solteiras.
Dá-me um trabalhão de merda carregar os sacos todos sozinha, arrastar o piano cá em casa, tenho um carro mas mecânica não é comigo, e às vezes tenho medo de ter uma fuga de gás em casa e que me encontrem três dias depois. (foi o tempo que calculei para alguém me arrombar a porta)
Tirando isso, eu vivo bem com a minha presença.
Eu já me apaixonei uma vez, há muito tempo.
Quase que em outra vida, outra pessoa que não era eu, com planos e ideologias muito diferentes das que tenho hoje em dia.
O tempo passou, e os sentimentos acabaram por ser levados com ele.
Tanto de uma parte como de outra, mas isso não me incomoda.
Incomodaria-me mais deixar-me ficar num sitio só porque sim.
Talvez o amor seja só uma fábula, esse tipo de amor que acaba connosco e nos dá cabo do miolo... mas mesmo assim é a maneira mais certa que vejo de me matar.
Sinceramente, não faço ideia de onde andará o homem que um dia, noutras datas e em outras ocasiões, consiga fazer-me apaixonar.
O mais provável é que a gente nem se cruze no caminho um do outro, porque eu não falo a estranhos e por norma eles também não vêm falar comigo.
Vem da minha maneira de ser, mas perder longas horas a falar com alguém é das coisas mais bonitas que duas pessoas podem fazer.
E o que é bonito é para ser respeitado.
Teríamos que nos esbarrar em algum lado, e eu seria obrigada a pedir-te desculpa.
Talvez aí, nesse momento, eu poderia ponderar em pedir-te desculpa mais vezes durante a vida.
Mas o tempo sabe o que faz e eu acredito que as coisas têm o seu tempo.
Amor verdadeiro também tem o seu, senão não andaríamos todos mal casados e com relações de fachada.
Eu não vou ser dessas pessoas, recuso-me.
A ideia dá-me a volta ao estômago.
Prefiro esperar-te, signifique isso o que significar...
Não me identifico com quase ninguém, a minha mãe diz que sou azeda demais e o meu pai que sou só especial.
Sou uma azeda especial, portanto.
Quando era miúda nunca achava piada aos rapazes mais bonitos, tudo o que era demasiado óbvio enjoava-me.
Felizmente, continuo assim em idade adulta, e por muitas voltas que a vida dê, que todos se casem e que eu continue a bater o pé, nunca iria aceitar alguém ao meu lado que não fosse diferente.
Não preciso de um homem que valide a minha presença ou que me faça sentir especial.
Eu já me sinto especial, todos os dias em que opto deixar-me ficar no meu canto em vez de dar a mão a alguém que não desperte em mim o melhor que tenho para dar.
Sinto-me especial por conseguir carregar tudo sozinha, arrastar as minhas coisas e não precisar de barulhos sem ser os que já tenho.
Tenho tantos sonhos,e preciso tanto de alguém que tenha os seus próprios também.
Precisas de ouvir música da boa, não te podes vestir como os homens da minha geração, não quero que sorrias a muita gente, e espero que compreendas isto:
Nunca hei-de querer alguém que me siga, quero alguém que me acompanhe nisto que é a vida.
Se te conheci na altura errada da minha vida, desculpa.
Eu hei-de esperar por ti, e pelo dia em que as nossas alturas se encaixem.
Até lá, não dês a mão a quem não deves, que eu faço o mesmo.
Inês.



Comentários

  1. E dava jeito vir também armado

    ResponderEliminar
  2. Muitos Parabéns! Os teus textos de facto transmitem algo inexplicável. Desculpa tratar-te por tu, mas devemos ter a mesma idade e os pensamentos muito parecidos. Conheci o teu blog à muito pouco tempo mas encontro nas tuas palavras algo que não sei explicar, mas que é bastante bom. Não tenho por hábito comentar os blogs por onde passo mas neste caso precisava de te dar os meus sinceros parabéns pela forma como escreves e como expões tudo aquilo que te passa pela cabeça. Nunca deixes de escrever aquilo que sentes pois é nas palavras que por vezes depositamos toda a mágoa e todo o sentimento, e é nelas que encontramos o conforto para seguir em frente. Mais um vez parabéns :)

    ResponderEliminar
  3. http://baseadonumacomedia.blogspot.pt/

    identifico a minha escrita um pouco com a tua, vê se conseguires. Obrigada, beijinho

    ResponderEliminar
  4. " A minha mãe diz que sou azeda e o meu pai diz que sou especial." Tal e qual os meus. Quando aprendemos que o nosso mundinho é bom, torna-se difícil deixar alguém entrar.
    Obrigada pelo texto, está espectacular, revi-me imenso.
    Continua assim Inês, um beijinho

    Ana

    ResponderEliminar
  5. Deixei uma única pessoa entrar na minha vida e sinto-a sair aos pouquinhos como se me escorrega-se entre os dedos. Amo-o muito Inês, e parte-me o coração, dá-me insónias passar por isto. A tua escrita faz-me perceber que hás vezes precisamos de largar aquilo que já não nos aagarra. Que ficarmos presas a alguém não nos torna mais felizes. Obrigada pela força que consegues transmitir. Acho que tens razão, quanto ao estar sozinha, tu estás e não deixas de ser especial. E és tão especial. Obrigada pela coragem que me dás. Beijinhos grandes!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares