Não te esqueças de mim.

A minha maior descontração, é escrever sobre amor.
Não sei se já o encontrei, se já o vi, ou se entre as milhares de caras com que já me cruzei na vida, alguma delas se vai encaixar em mim dentro de algum tempo.
Talvez nem vá encontrar esse grande mito de que toda a gente fala.
Talvez já o tenha encontrado, e tenha-o deixado escapar.
Ou então nem existe, sei lá eu.
Sei que a forma mais bonita que temos de passar pela vida de alguém, é ter a certeza que não se esquecem de nós.
Partir corações, ser a mais espampanante numa mesa de café ou andar de nariz empinado, não faz de nós senhoras inesquecíveis, mas faz de nós senhoras do nosso próprio caminho. 
Sou mulher, felizmente.
Já fui insultada em ruas, já deixei rumores e boatos tirarem-me a força das pernas, já passei por situações impensáveis e já me levantei de todas as quedas que dei.
Não te consigo dizer que sou a mesma pessoa, depois de tantas vezes me quebrar, mas consigo-te dizer que aquilo que sobrou de mim, é tudo aquilo que preciso para andar para a frente.
Talvez a vida seja isto mesmo, perderes bocados de ti mesma até ficares só em carne.
Deixares as máscaras caírem.
Por muito feia que no fundo possas parecer, a realidade é que somos todos feios.
Somos todos construídos de aparências, de palavras politicamente corretas e de personagens que criamos para não nos assustarmos uns aos outros.
Eu não me importo de assustar quem quer que seja, porque a vida passa, mas aquilo que fui não.
Tudo aquilo que escrevo, que passo para o papel ou que deixo as pessoas saberem de mim, é tão pouco do muito em que me encontro.
Não acredito que aquilo que sentimos, deva sair "dessa forma" para o resto do mundo.
As pessoas dizem que o que ninguém sabe, ninguém estraga.
Mas até que ponto viveres uma história de amor só contigo mesma, te faz bem à pouca sanidade que te resta?
Nunca o vou saber.
Ou talvez quando o saiba seja tarde demais.
Mas mesmo assim, escolho seguir o caminho que me faz fiel a mim mesma.
O da liberdade.
De expressão, de vontade e de orgulho.
Orgulho de não ser tudo aquilo que esperam, mas ser tudo aquilo que consigo ser.
Somos todos filhos de um tempo de incertezas.
Dizem-nos que nascemos na época dos grandes sonhos, dos grandes momentos e das grandes oportunidades.
Mas não.
Nascemos numa altura de dependência, nascemos nos conselhos de "És boa mas isto é Portugal" , nascemos com a opinião que "Arte não põe comida na mesa", e que o mais bonito e correto é seguires a manada e eventualmente, tornas-te numa dessas pessoas.
Nessas pessoas chatas, aborrecidas.
Que se esqueceram dos sonhos e de querer mais.
Que se contentam.
Que evito passar tempo e trocar opiniões.
Que não vão ao teatro, não ouvem música nem saem da zona de conforto.
Eu não me quero tornar nisso.
Não quero ficar vazia por dentro e por fora.
O meu coração pode estar vazio a maior parte do tempo, às vezes já nem sei se é sangue que me corre nas veias, mas por muito vazia que me possa sentir, lutar por mim mesma é e sempre será o meu maior ganho.
Eu posso não encarnar a personagem que fui educada para ser.
Uma menina cheia de palavras caras, morais altos e caminhos tão certos.
Posso já me ter perdido nas mil e uma voltas que a vida nos faz dar.
Mas a única certeza que tenho é esta.
Nunca vou precisar de dizer para não se esquecerem de mim.
Porque numa sociedade tão plástica em que toda a gente se substituiu e se troca, eu nunca me troquei por outro alguém.
E se o maior ganho é seres fiel aos outros, alguém se esqueceu de te dizer, que não há prato melhor servido, do que teres sido fiel a ti mesma.