isto não é uma história de amor

Eras enorme.
Quase tão grande como a mochila de mentiras e arrependimentos que me puseste às costas.
Deste-me duas palmadinhas nas costas, quase metafórico.
"Vai, faz-te à vida".
E eu fiz-me.
Meio a tremer, meia perdida.
Dentro de um corpo que já não sentia como meu.
Levaste-me.
Tiraste-me de mim mesma.
Cobarde.
Fiquei tão partida que te confundi com toda a gente.
Enfiei-me na banheira durante uma noite de seguida.
Toda maquilhada, toda borrada.
A música que tocava de fundo, nunca abafou a falta das tuas palavras.
Quando saí e me olhei ao espelho, nunca me odiei tanto a mim própria.
Não havia água nem shampô,
pele enrugada ou água a ferver,
que tivesse tirado as marcas do corpo.
Marcada em mim mesma.
Por ti e por sombras tuas.
Deste-me duas palmadinhas nas costas, quase metafórico.
"Vai, faz-te à vida. Sê feliz."
Nunca olhei para trás.
Da mesma maneira que nunca me seguiste.
Não houve nada de bonito na despedida que fiz de ti.
"Desculpa ter-me cruzado na tua vida".
Foi o que disseste com aquela expressão sem nada para dar.
Fizeste o teu caminho e eu o meu.
Desculpa-me a mim.
O meu corpo nunca foi teu.
Mas a minha alma, nunca mais foi a mesma.
Pregas que a tens.
Mas não.
Roubaste a minha.
Isso não se faz.
Foder um corpo é fácil.
Foder uma alma é feio.
Vai-te foder.
Sempre.