na esquina do amanhã.

2013

O amor cortou-me aos bocados.
Ele disse-me uma vez, "nunca ninguém vai querer saber do que escreves".
E a vida deu-lhe uma chapada.
Não tão forte como deveria ter sido, mas mesmo assim.
Não foste tu que me tornaste no que sou, mas eu sempre te provei o quanto não dependia de ti.
Tu fazes, eu faço-te.
Ainda te lembras?
Tu respeitas-me, eu respeito-te.
Tu abraças-me, eu abraço-te.
Tu mentes-me.
Eu faço de conta que não sei mentir.
Nem que não entendo os atalhos que tomas na manhã seguinte, de não teres ficado em casa.
Libertares-te de ti mesma, todos os dias.
Eles continuam a falar.
Não há caminho que não vire, que não os oiça.
Mas mesmo com a maior banda sonora que já possa ter ouvido, há sempre alguém.
Vai sempre haver alguém.
A vida deixou-me cair vezes demais.
Mas por mais partida que possa estar, houve sempre alguém.
E mais do que aqueles que nos passam rasteiras.
Mais do que aqueles que nos tiram pedaços de nós, que nem nós próprias sabíamos que tínhamos.
Mais do que os empurrões.
Mais do que os cortes.
Mais do que gritos e paredes cheias de nada.
Mais do que as noites desligadas.
Mais do que o meu corpo meio amassado, meio vivo.
Mais do que as noites em que morri para mim mesma.
Porque fui eu que me matei.
Nunca tu, sempre eu.
E eu sei disso, e escrevo sobre isso.
E deixo-me ficar.
Não porque não goste de me ver viva, mas porque sei que estar morta é a forma mais fácil de viver.
Se a pele perdeu o encanto de outros tempos, e o corpo martiriza-se por já não saber que direcção tomar, então a minha alma agradece-me por todas as desilusões que posso ter evitado.
Eles falam muito, mas dizem pouco.
O eco de todas as palavras menos bonitas que já foram ditas, tornou-se no ritmo das ilusões que carrego às costas.
E por muito pesado que esteja, são minhas.
Não respiro mais o que me fizeste.
Estou cheia, farta e massacrada de respirar tanto veneno.
O ar enche-se de promessas e no fundo da rua, há sempre alguém que me diz o quão bonito as coisas podem vir a ser.
Mas eu não consigo projetar o futuro.
Eu nem quero alguém que me soe bonito.
O meu ex-namorado enchia-me a alma de palavras engraçadas.
E por muito engraçadas que possam ter sido, não apagou tudo o resto.
O telemóvel desligado e as madrugadas que se deixou de dormir.
Vá lá, tu não estavas a dormir.
E eu, eu estava a dormir só dentro de mim mesma.
Ninguém me parte o coração, porque em algum sítio, e em algum lugar, está destinado a ser partido por outro alguém.
Porque eu sei que há-de chegar.
Provavelmente está tão partido como eu.
Tão perdido como eu.
Tão perdido ao ponto de já nem se encontrar.
Um dia.
Um dia cai-me tudo aos pés e entra alguém que me faça voltar a ficar cheia, para um dia mais tarde sentir-me um pouco mais vazia que antes.
Se é que é possível.
Como se alguém tão cheio de nada, pudesse ainda esvaziar-se mais.
Quem me dera que me conseguisses ver a sorrir hoje em dia.
Não ao lembrar-me de ti.
Mas a lembrar-me que nunca mais, vais ser tu com a capacidade de me fazer feliz nas mãos.
Agora sou só eu.
E na relação comigo mesma, compreendi o quanto te podes sentir sozinha, na relação com a pessoa errada.



Comentários

  1. Eles continuam a falar.
    Não há caminho que não vire, que não os oiça.
    Mas mesmo com a maior banda sonora que já possa ter ouvido, há sempre alguém.

    lindo.

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  2. Agora sou só eu.
    E na relação comigo mesma, compreendi o quanto te podes sentir sozinha, na relação com a pessoa errada.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Fazes-me ter a coragem para seguir em frente , sozinha.

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  5. Obrigada Inês, é apenas isto que consigo dizer.
    Obrigada <3

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