Ficar ou seguir.

Eu nunca compreendi o porquê de certas pessoas, se sentirem instantaneamente ligadas a outras, sem terem perdido longas horas do pouco que é a nossa vida, a conhecê-las.
Mas acontece.
Aconteceu-me a mim, e deve acontecer a mais gente.
Às vezes, sem esperares, e mesmo sem quereres que a vida te faça cruzar com alguém que te troque as voltas, aparece alguém que te tira o tapete.
E tu nem sabes ao certo se lhes tremeste o mundo, se sentiram o mesmo, mas sabes que as coisas provavelmente não voltam a ser iguais.
E eu podia dizer tanta coisa, escrever tanta coisa, dizer tantos nomes e referir tantos sítios.
Mas escolho não o fazer.
Tenho andado tantas vezes sozinha por tanto sítio, constantemente a lamentar-me de como as coisas podiam ter sido e nunca chegaram a ser, de fones nos ouvidos, porque a música fazia-me lembrar-te, e foi nesses mesmos caminhos que me perdi.
Foi aí que entendi, que sempre que te tentei encontrar, acabei por me perder.
Nunca te encontrei, mas sempre perdi um pouco mais de mim mesma.
Procurar muito por alguém que não aparece, deixa-nos "cucus".
Andamos às voltas no mesmo circulo,
E no fim, já não sabes onde estás, ou quem é a pessoa que está ao teu lado , porque foi tudo para tentar imaginar, como podia ter sido.
Quando gostamos muito de alguém, agarramo-nos às coisas mais pequenas.
Nós mulheres então, seres eternamente sensíveis e apaixonadas pela ideia que alguém, algum dia, faz valer a pena todas as mossas e rasteiras que a vida nos pregou, temos um jeito diferente, de vermos um "um dia acontece", num "eu amo-te e por isso deixa-te estar".
Eu nunca fui esse tipo de mulher, porque nunca precisei de o ser.
Mas tu tornaste-me em muita coisa.
O que de tão ridículo que é, no fim torna-se bonito.
O quanto nós, pessoas, nos moldamos a quem achamos que nos pertence.
Nunca vou compreender o porquê de almas quebradas se atraírem umas às outras, mas talvez dentro de mim, existisse a esperança que as nossas peças soltas,  pudessem formar um quadro, um livro, ou uma música que não interessasse a mais ninguém.
No fim, o amor é isso, um só, feito de milhares de pontas soltas e dois corações quebrados.
E por isso, no outro dia, igual a todos os outros, pus o pé fora do circulo.
E segui em frente, literalmente.
O meu coração por muito quebrado que possa ou não estar, é meu.
E depois de tantas noites em branco, manhãs em claro e escuro em todo o lado, olhei para baixo.
Não foi a vida que me levou até ti, fui eu.
O caminho para voltar atrás pode ser longo, mas sei que em algum ponto, há-de aparecer uma esquina.
Voltei a andar por sítios que sempre andei, e não é que já não te veja atrás de mim, mas já não olho constantemente a ver se apareceste do nada.
Tirei os fones dos ouvidos, e ouvi o que toda a gente ouve.
E por instantes, soube-me bem.
Voltar a olhar para toda a gente, sem me lembrar que no meio disso, não estás lá tu.
Estou eu sabes, e por hoje isso chega-me.
Ficar ou seguir em frente nunca deveria ser uma opção.
Quem está destinado a ficar connosco, segue em frente a nosso lado.
Aprender isso, é lindo.
Nunca pensei que tanto tempo sozinha, se tornasse no fim algo tão bonito.
Aprendi a gostar de mim mesma, no período mais feio que tive.
E aos poucos, estou a reconhecer o que vejo a espelho.
Eu.






Comentários

  1. Estou apaixonada por ti e pelas tuas palavras.

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  2. Abram alas, porque só há uma destas.

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  3. Finalmente aprendeste o básico: amar-se a si próprio. Depois segue-se o outro. Mas deves nunca te esqueceres do teu vizinho, do teu bairro, da tua terra, dos outros. Os teus país serão sempre a tua árvore, claro. Ninguém quer saber do teu umbigo, rapariga, nunca o esqueças. E vai crescendo. Escrevendo ou não é igual ao litro!

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    1. Igual ao litro para ti... Fdx haja paciência para atrasados destes.

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    2. Ok Arnaldo, para a próxima pode meter com o nome que também é igual ao litro.
      Felicidades

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    3. Diz aí ao amigo de cima que felizmente és e sempre foste uma mulher que nunca pensou no umbigo dela, e que sempre teve amor próprio.
      E que há quem queira saber do teu umbigo, eu sou um deles.
      e apesar de tudo, estou sempre atrás de ti, não pa te assombrar mas para te proteger.

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  4. Linda por dentro e por fora!

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  5. Querida Inês, estou-te a escrever de perto. Desculpa-me se o meu comentário quase que te vai parecer uma carta, mas ando cá há sessenta e cinco anos e só há relativamente pouco tempo comecei a entrar em contacto com as "redes sociais". Dei com o teu blogspot a partir de partilhas de amigas da minha neta (é assim que vejo que estou velha) e já te tentei comentar o blog muitas vezes mas esqueço-me sempre de dizer que não sou um robot.
    Vai parecer cliché, mas lembras-me muito a mim com a tua idade. Quando tinha 24 anos apaixonei-me perdidamente por um homem muito complicado. Eu era muito nova, e ele apesar de ser mais velho nunca entendi quem era o verdadeiro adulto na relação. Eu era do Algarve, ele era de todo o lado.Era um nómada, e isso fez-me querer muito partilhar tudo com ele. Estivémos juntos sete vezes durante a vida, sete vezes em quatro anos. É coisa de outros tempos eu sei, mas é para te dizer que por vezes, há pessoas que nunca nos abandonam. e não há mal nenhum em aceitar isso. um dia bati porta fora, casei-me dois anos depois. tive dois filhos, fui professora, hoje tenho cinco netos, e olha para mim.
    A lembrar-me de um amor que foi com o tempo, mas que não há dia em que não me passe pela cabeça.
    és uma rapariga muito bonita e com muita luz interior, e estou-te a escrever isto, para te dizer que não batas com a porta fora, (a não ser que não seja o caso) se achares dentro de ti, que daqui a mais de quarenta anos ainda te vais lembrar desse homem. ( se é que existe )
    às vezes temos que nos amar só a nós, mas almas gémeas, e eu vivi uma vida e beijei muitos homens, só há uma.
    Beijo querida Inês, espero ainda te ver nas montras de livrarias.

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    1. Mande-me mensagem para o facebook, ou para a página ou para o pessoal.
      Quero conhecê-la, temos que passar isso para papel.

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  6. Sabias que todas as noites venho-te ler antes de dormir? fico sempre tão feliz quando há um texto novo.
    gostava tanto de te ouvir falar.
    obrigada Ines.

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  7. Olá querida Inês,
    Já andava há décadas à espera de mais um texto teu, viciei me na tua escrita e mais uma vez, não fiquei desiludida.
    E "arnaldos" há muitos, mas fãs como eu há muitos mais :)
    Da que espera vir a comprar um livro teu num futuro próximo,
    Leonor

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  8. Olá Inês,
    Vim aqui hoje, no teu Blog, porque me permite dizer tudo que me vai na alma e permanecer "Anónimo", como quase todos somos na vida, anónimos a tentar fazer a diferença. Muito poucos conseguem, fizeste a diferença na minha vida, quase todos os dias procuro compreensão nos teus textos, nas tuas palavras. Recentemente conheci um homem. Alto, moreno e tudo que diz parece acompanhado de amor, carinho, como quando o meu pai me vinha dar um beijo de bom dia quando eu ainda mal tinha aberto os olhos. Lindo por fora, destruído por dentro. Fez-me acreditar de novo que o amor era uma coisa bonita. Estudo a 100 km de casa, ele trabalha a 400, quantas vezes fazia 7 horas de viagem e aparecia a minha janela as 2 da manha a dizer que tinha saudades minhas, apaixonei-me. Hoje partiu-me o coração, re-descobriu um amor antigo e nem olhou para trás. Queria dizer-lhe muita coisa, mas estou aqui, porque nunca conseguiria encontrar as palavras certas para o fazer. Então decidi respeitar, não há coisa mais bela no mundo que o respeito, vou dar-lhe "asas", bela metáfora arranjaram para o amor - asas - para voar longe, como os pássaros que aprendem a voar quando ainda nem sabem o que os espera lá fora.
    Um dia disse-te que estudo Psicologia, mas sinto que não sei nada sobre mim, nem sobre os outros. Respondeste-me que escreves sobre amor e também não sabes nada sobre ele. Parece que somos todos uns desajustados, conformados.
    Obrigada por dizeres sempre as coisas certas, beijo Inês.

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  9. Já to disse hoje mas repito, és fantástica, tu deste-me o gosto por esta arte. És absolutamente incrível. Fascinante. Atrais com uma medida que até tu, Inês, desconheces. Quero-te inês.

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