Amanhã, ficas?

Estive a pensar em nós os dois.
O quanto somos diferentes, e o quanto nos tornámos iguais.
Escrevo porque tu existes, porque num dia sem nada, deixaste ficar tudo.
Saudade, vontade, comichão e tesão.
Quis-te muito ontem.
Quero-te muito hoje.
E o meu intuito de mulher diz que amanhã, seja lá o dia do calendário em que isso calhar, também te vou querer.
Quando gostamos de alguém, pelo menos da forma que acho que fiquei a gostar de ti, as coisas perdem a importância, e o tempo que passo longe de memórias que até agora só as construí na minha cabeça, ganham uma proporção ridícula.
Se pudesse escolher, hoje, agora, neste preciso momento, eras tu que estavas ao meu lado.
Às escuras ou de luz acesa,de sorriso no rosto ou mais melancólicos, a ver filmes ou sentados em cima um do outro, eras tu.
E isso já é uma prova de amor, pelo menos para mim,
que nunca preferi a companhia de ninguém, a mim mesma.
Não sei ser feliz contigo, mas também não sei estar bem sem ti.
Nem contigo, nem sem ti,
Nem a falar contigo durante um dia de seguida, nem sem te ouvir a voz durante uma semana.
És tóxico.
Não devias ter aparecido.
Mas estás cá, então deixo-te ficar.
Para amanhã, para depois, ou para me relembrar de ti, quando nos virmos daqui a dez anos, cada um já com vidas diferentes, e provavelmente de mãos dadas com outro alguém.
Esperar por alguém, pode ser a prova mais bonita de amor que se pode dar.
Mas pode-se tornar no nosso pior inimigo.
Inês pára, estás a ser ridícula.
Vai-te arranjar e vai sair à noite.
Como costumavas fazer, até ao dia em que entendeste que o tempo passado ao lado de quem nada te diz, é tempo desperdiçado.
Vai-te maquilhar. Vai andar de mini na mão.
Vai-te rir.
Ri-te alto, como sempre te riste.
Mas não, como em todas as grandes histórias de amor, o tempo pára e o que era interessante um dia, deixa de o ser.
E eu já sei que o que se passa, passa-se dentro da minha cabeça, mas porque razão quererá isso dizer que não é real?
É que sabes, eu já gostei muito. 
Já quis muito. 
Já lutei muito.
Mas nunca gostei tanto da ideia, de saber que nada do que faça, te vai trazer até aqui.
O tempo passa, um dia a seguir ao outro, nós crescemos, envelhecemos, e o meu orgulho por ti, parece ser a única coisa que fica parada no tempo. 
Sei lá eu, porquê. 
Nunca existiu. 

Nunca apareceu.
Ver-te, lembra-me sempre que não te posso ter.
E até nos dias mais esquecidos, em que tenho a cabeça cheia e o coração desocupado da tua imagem, a tua cara vem-me sempre ao de cima, cada vez que acho que te esqueci.
Um dia disseste-me que me vias no fumo, ainda te lembras?

Pus-me a pensar no quanto abdicaria para te fazer feliz, e entendi.
Descobri que és o meu maior veneno, e a minha única cura.
Tentar apaixonar-me por alguém que não tu, é sempre o meu objetivo quando me levanto de manhã.
Quando me deito, compreendo que não te ter aqui, começa a fazer parte de mim como mulher.
Não penses que me deito sempre sozinha, ou que me tornaste em alguém que já não sabe sorrir a alguém.
Sabe só, que perdi a capacidade de querer alguém, que não tu, na minha caixa de mensagens, ou ao meu lado num jantar de família.
Sabe só, que não quero mais ninguém.
Que não gosto de mais ninguém.
Nem que faço feliz mais ninguém.
Que tenho uma chave suplente em cima da minha mesa de cabeceira.
E que não a vou entregar a ninguém.
Que não mostro amor, nem carinho, nem o quer que seja, a mais ninguém, sem ser a ti.
Mesmo que não o demonstre.
E numa forma agridoce, caótica, ou até desnorteada, não te ter, faz-me gostar ainda mais de ti.
Quando me dizem que estar feliz ao lado de alguém, é uma escolha e não sorte, e eu não as faço certas, lembrar-me de ti a sorrir-me, é o que basta para tapar os ouvidos, e continuar a andar confiante por qualquer esquina, rua ou cidade, em que não estejas.
E que amanhã fiques ou não, como mulher do meu nariz que sou, continuo a andar pelos mesmos sítios que andei até te conhecer, na esperança que um dia, te esbarres em mim.



Comentários

  1. Inês, obrigada por escreveres. Por partilhares o que sentes, porque por muito pouco que te possa parecer, a mim faz-me sonhar e chorar ao mesmo tempo.
    És tão boa no que fazes, que dá vontade de gritar.
    Lês todas as mulheres.
    Casadas, solteiras, apaixonadas.
    Obrigada.

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  2. Inês Alegre, obrigada.

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  3. "Não penses que me deito sempre sozinha, ou que me tornaste em alguém que já não sabe sorrir a alguém.
    Sabe só, que perdi a capacidade de querer alguém, que não tu, na minha caixa de mensagens, ou ao meu lado num jantar de família.
    Sabe só, que não quero mais ninguém.
    Que não gosto de mais ninguém.
    Nem que faço feliz mais ninguém.
    Que tenho uma chave suplente em cima da minha mesa de cabeceira.
    E que não a vou entregar a ninguém.
    Que não mostro amor, nem carinho, nem o quer que seja, a mais ninguém, sem ser a ti.
    Mesmo que não o demonstre."


    TOP!!!

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  4. É pena não ter sido eu a cruzar-me nos teus caminhos há 4 anos atrás!!

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    1. tenta cruzar-te agora, pelos vistos ainda não se esbarrou em ninguém

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    2. Mesmo que o fizesse agora não iria fazer qualquer diferença!
      Parece-me que ainda está presa ao antigo amor..

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    3. vê-se mesmo que não conhecem a Inês. Ela está presa sim, mas a alguém que não consegue chegar. basta ler.
      Mas tentem, nc se sabe.

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    4. Tens toda a razão não conheço a Inês nem um pouco e nem vou conhece-la!

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  5. És uma "miúda" muito especial.
    Vais longe, em que caminho seguires. Um beijo

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  6. és das mulheres mais dificieis de conhecer e compreender. pelo que sei, não te entregas, e então n esperes milagres em esquinas.

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  7. Espero que um dia tenhas o futuro que mereces, como escritora, mas sobretudo, como mulher. Gosto imenso de ler os teus textos, provavelmente porque me revejo em cada palavra que escreves, mas também pela forma tão crua como o fazes.

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  8. Dificilmente acredito que, após percorrermos os mesmos caminhos, esbarre contigo... ou tu comigo.
    Se te encontrar encontrarei outra Inês e serás, para mim, tão estranha como sempre foste. Se, por algum acaso, reparares em mim, também não verás mais que um novo estranho... Um novo corpo, um novo amontoado de ideias tortas que se emaranham entre sentimentos e razão.
    Ver-me-ás, o ter coração baterá. Sentirás o arrepio que apenas a passagem do fantasma do passado pode causar em alguém.
    E eu, ao sentir o teu olhar acutilantemente meigo e doce, recuarei - ou por medo, ou por vergonha.
    Também me vou arrepiar ao sentir que me queres... E tenho a certeza que inundarei a mente com imagens daquilo que foi, daquilo que é, daquilo que podia ter sido...
    E, como quem vê um papagaio de papel voar com o vento escapando-se das próprias mãos, ambos veremos as nossas imagens desfocarem-se e cairemos, a pouco e pouco, na realidade
    A realidade de dois caminhos que, esbarrando-se, nunca se encontraram.
    Pois, lembra-te Inês.
    O importante não são as linhas da vida que concordam entre si.
    O importante são as linhas das vidas que andam paralelas, sem nunca se interferirem mas caminhando no mesmo sentido.
    Apenas as últimas se podem juntar numa única, deixando de fazer diferença se vão para aqui ou para acolá.

    O importante são as duas linhas de vida que não são duas, que se transfiguram num só traço.
    E o fantasma do passado é só névoa que não nos move, apenas nos tolda a visão.

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  9. Inês, desde muito nova que sempre foste diferente da maior parte das raparigas da tua (nossa cidade). Sempre te olhei pelo canto de olho, mas nunca te abordei. Nunca tive coragem, nunca tive colhões para o fazer. Sempre te ouvi a falar bem, a ser uma mulher, e mesmo quando eras uma miuda de madeixas loiras e mini na mão nos intervalos da secundária, estendeste a mão e sorriste a quem passava. Mesmo que não fosse ninguém ligado a ti.
    Lembro-me de ti, toda bonita e um sonho para nós, rapazes nerds, um dia interferires numa situação de bullying em que tudo se ria, e mais ninguém agia.
    Tu agiste. Com o teu cabelo loiro a dar pelos ombros e voz de mulher. Lembro-me do que disseste.
    "Um dia, todos os menos engraçados do Liceu, vão ser os vossos patrões".
    Andavas de mão dada com o teu pai, discutias com a tua mãe, sorrias e não falavas a quem não conhecesses.
    Hoje olho para ti, estás uma mulher.
    Linda como sempre, mas com dez vezes mais poder de argumentação. Sempre te deste com pessoas erradas, ou talvez tu também sejas uma para se apaixonar.
    Vou ser sempre apaixonado por ti.
    Quem não seria?
    Admiro-te.
    Um dia vais acabar nas livrarias.
    Tão diferente, tão igual a todos nós.

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    1. No colo do pai, lembro-me bem. Nos intervalos, aos beijos e aos abraços com o pai. Das poucas vezes que a vi, gostar de alguém.

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    2. O pai da Inês é um dos músicos mais especiais da nossa Cidade. Um dia disse em alto e bom som no retunda, " A minha filha é o meu orgulho e uma mulher linda, pena ouvir Britney Spears".
      Tu e o teu pai são um amor de pai e filha, que não se vê.
      Lembro-me de muita gente falar mal de ti, assim como comentavam sobre o teu pai.
      Com dezassete anos tatuaste "Dad, I love you", e aí lembrei-me...
      O quanto duas pessoas se podem amar.

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  10. Sabes o que gosto mais no teu blog? É que embora todos possamos vir aqui comentar, a dar a cara, em anónimo, com o nome verdadeiro ou falso, raramente se vê alguém a falar mal de ti.
    o comentario acima fez-me chorar. es linda,

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  11. Excelente, Inês (:
    Tens um grande potencial, devias pensar levar os teus textos mais longe.
    Quase que te intitulo como um "Pedro Chagas II"

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