Um dia, amo-te.

É sexta-feira e ainda não estivemos juntos.
Estou sozinha em casa. Estou a ouvir música, estou à frente do espelho, estou nua e estou vestida.
Esteja sozinha, esteja acompanhada, no dia em que me bateres à porta, largo tudo por ti.
É a maior promessa de amor que se pode fazer a alguém, prometer que um dia, esteja em que situação estiver, tu vais ser o homem por quem vou deixar tudo. A minha sanidade, o meu amor próprio, e a faceta indecisa que me acompanha desde muito nova.
É a única coisa que te posso dar, eu mesma.
Vou esquecer as conversas de conveniência, deixar de me sentar em mesas de café sem tu lá estares, e vou parar de ir a sítios onde sei que não te vou encontrar.
Nunca sei onde te deva encontrar, e talvez seja melhor assim.
Quando me dizem que não estamos destinados a ficar juntos, não me conhecem.
É que eu brinco com o destino e com as partidas que ele me prega, da mesma maneira que brincas com a tua vida, ao fingires que és feliz.
O amor levou-nos para longe um do outro, ou a falta dele. E como tudo o que faz separar alguém, faz juntar outros, o amor juntou-nos aos dois. Ou a falta dele.
Eu descobri que lhe era fiel, quando sem nunca ter nada garantido e assumido, passei a ver a cara dele em qualquer homem que tentasse sorrir-me com segundas intenções.
Quer dizer, eu ia para os sítios com segundas intenções, mas aprendi que já não era livre, quando via o sorriso dele e a maneira de ser pouco normal, em qualquer pessoa comum que me aparecesse no caminho.
Pela primeira vez tinha-me apaixonado por uma pessoa só por ouvi-la falar.
Pela primeira vez, tinha compreendido o que o meu pai me dizia sobre amor verdadeiro.
Tinha entendido o que a minha mãe me explicava sobre primeiros encontros, e marcar alguém sem ser preciso mostrar o corpo. Finalmente, compreendia o que era amor.
Amor puro e podre, podre por estar tão sedento do teu corpo, puro por não ter certezas se o chegaria a ver.
Mas amei-te na mesma. Amei-te nas indecisões, nas promessas sem certezas, nos abraços que nunca me deste, e nas noites que nunca ficaste.
Odiei a parte de mim que ficou sensível.
Odiei saber que pela primeira vez, havia alguém, sem ser eu própria, que controlava sem eu me aperceber, as minhas atitudes e as pessoas a quem me dava.
Que havia alguém que me fazia ter nojo da ideia de me envolver com alguém, mesmo sabendo que não ia ser ele, a aquecer-me numa noite qualquer vulgar.
Tu marcaste o meu corpo e aqueceste-me a alma.
Eu não falo muito, nem dou muitas confianças a ninguém.
Já me disseram que sou diferente, que nunca digo o que sinto nem o que quero.
Talvez porque a única coisa que quero és tu, e o que resta em mim de sentimentos, é por ti que batem. Talvez me esteja a guardar para começar a dizer tudo o que sempre quis dizer, e como acredito que as palavras não devem ser desperdiçadas, é para ti que as guardo.
Depois vamos para onde tu quiseres ir. Dentro ou fora do país. Onde toda a gente nos conheça, ou onde ninguém saiba de nós.
Ou até podemos ficar em casa em frente ao espelho. Nus ou vestidos.
Sozinhos, mas sempre um com o outro.
Podemos ser daquele tipo de casais que ninguém entende. De ficarmos na cama uma tarde toda sem dizer nada, vermos filmes a preto e branco, bebermos sozinhos em casa, ou dizermos as maiores barbaridades que já fizemos na vida, um ao outro.
Eu não te vou deixar de amar por isso. Tu não me vais deixar de amar quando entenderes que não sou tudo aquilo que aparento ser.
Os dias passam normais, um atrás do outro, e se já nos cruzámos ou trocámos algum tipo de palavra, é por ti que espero sempre que viro as costas a alguém em que não te oiço.
Fartei-me de acreditar em tempo. Comecei a acreditar em nós.
A tua voz está-me entranhada no corpo, por muito ou nada que já te tenha ouvido a dizer.
Eu digo aos meus pais que fui eu que me eduquei a mim própria, e como aprendi a ser menina do meu nariz desde muito nova, e a proteger-me das situações mais alheias, em muito tempo nunca senti necessidade de me ligar a ninguém. Mesmo quando era suposto estar, o meu coração batia só por mim.
Não era egoísmo, não era falta de compaixão, era só gostar demasiado de mim e menos daquilo que os outros me poderiam fazer.
E foi assim, num dia que não era suposto acontecer nada demais, que o destino me acabou por levar até ele.


Comentários

  1. Fodasse, como é que fazes estas merdas? de escreveres sempre um tão bom como o interior? e de fazeres os homens tremerem? és um mulherão

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  2. És no mínimo especial. Um dia as tuas palavras vão ecoar em todo o lado.

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  3. Nunca pares de escrever!!!

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  4. Eu nunca leio nada, só venho roubar as fotos, imprimo-as e coloco na parede do quarto.

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  5. "Já me disseram que sou diferente, que nunca digo o que sinto nem o que quero.
    Talvez porque a única coisa que quero és tu, e o que resta em mim de sentimentos, é por ti que batem. Talvez me esteja a guardar para começar a dizer tudo o que sempre quis dizer, e como acredito que as palavras não devem ser desperdiçadas, é para ti que as guardo.
    Depois vamos para onde tu quiseres ir. Dentro ou fora do país. Onde toda a gente nos conheça, ou onde ninguém saiba de nós.
    Ou até podemos ficar em casa em frente ao espelho. Nus ou vestidos.
    Sozinhos, mas sempre um com o outro."

    Esta parte está completamente divinal. De chorar por mais.

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  6. Fodasse, a tua escrita é um vicio. Por favor, nunca pares de escrever.

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  7. Tu e o teu namorado tatuado tão no top dos mais falados algarvios. Será que qd forem pais vão-vos pedir dinheiro pelas fotos dos vossos filhos?
    Mas ag a sério, és genial.

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    1. A Inês é solteira... deixem já a vida da moça.

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    2. Não por muito tempo, vou comprar um ramo de rosas e cholatis...

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  8. "É que eu brinco com o destino e com as partidas que ele me prega, da mesma maneira que brincas com a tua vida, ao fingires que és feliz." deve ter doído

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  9. Inês, és linda por dentro e por fora. Tens um coração tão puro.. tens umas palavras tão sábias. Identifico-me imenso com os textos que escreves, e quando estou mal, é para aqui que venho encontrar alguma paz, na esperança que tudo fique bem, na esperança que eu fique bem.
    Obrigada por escreveres, continua assim, tens um talento enorme e um coração lindo, Inês. Beijinhos :)

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  10. Os teus textos são lindos, tens uma enorme força dentro de ti, e tens um poder enorme para escrever. As tuas palavras são mágicas, nunca pares de escrever, o teu blogue é um conforto para muitas pessoas acredita :)
    Beijinhos

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