Inês, meu bem.

Ela era a melhor pessoa que algum tipo podia ter ao lado. Não era certa. Falava sempre o que queria, e nunca pensava nas consequências. Ás vezes deixava-me constrangido em público. Mas andar de mão dada com ela na rua compensava a loucura que tive de aturar por tantas noites e tantas manhãs.
Nunca sentiu ciumes de nenhuma mulher, na cabeça dela tudo o que ela representava chegava para ter quem quisesse ao lado. Nunca compreendi o porquê de me ter escolhido a mim. Passado duvidoso, muitas mulheres da noite, pouca "cavalheirice" e maneiras a menos quando discutíamos.
Mas se calhar foi isso que a fez apaixonar-se por mim. Quis provar que era diferente das outras, e se provou. Apaixonei-me no dia. Mandei mensagem na manhã a seguir. Pensei nela. Mesmo que não fosse só nela. Pensei sempre nela. Ela ficou parte de mim, era minha, eu não era dela.
Cada vez que entrava em algum lado e o tempo parava para a ver passar, ela nem dava conta de quem olhava para ela. Os homens queriam-na, não como queriam qualquer uma, mas queriam-na porque tê-la significava segurar a mão a uma miúda que não ia olhar para mais ninguém. Era um conforto, um porto seguro, saber que a mulher que temos ao lado não dorme com mais ninguém sem ser com ela mesma.
Mulher mais bonita que algum dia se atravessou na minha vida. E foram muitas.
O único sorriso que tinha guardado dentro dela era para mim, e isso chegava-me. Corroía-me, mas chegava-me.
Quando a conheci vi que era diferente. A maneira de falar, de andar e de se expor. A forma como falava, os projectos na cabeça dela, e os sonhos que levava dentro da mala, fazia as outras mulheres pequenas ao pé dela.
Fascinei-me rapidamente por o seu jeito, e quem não se fascinaria?
A loucura que tinha assustava os homens. Senhora do seu nariz, sem se preocupar com o que dizem, ou o que fazem ou como a tratam, sempre com os pés assentes na terra mesmo nos dias piores. Escolhia com quem falava, com quem se dava, e confiem em mim, não eram muitas as pessoas que se aproximavam dela.
Amava-se a ela, e a forma como se amava dava para nos amar sem eu precisar de gostar sequer da companhia dela. Mas eu gostava.
Gostava de saber que apesar de ter sido de muitas, ela era só minha. Respeitava-a de forma diferente de todas as outras mulheres, porque era ela.
Dava-me um certo gosto toda a gente conhecê-la de vista, mas ninguém a conhecer no quarto.
Nunca mais volto a encontrar alguém como ela. Porque não dá. É impossível. Eu até tenho procurado mas as mulheres que me rodeiam não cheiram ao mesmo que ela, não falam como ela, não são loucas como ela, não arriscam como ela, nem sorriem como ela.
Não olham com o mesmo olhar de estima, quando não tenho muito que estimar.
Nunca mais a vi. E quando oiço falar da única mulher que pensei um dia pertencer-me, nunca oiço aquilo que esperava.
Vai-se apaixonar por outro homem. Talvez ele lhe parta o coração, ou talvez ela o parta, porque sinceramente matei uma parte dela. Ela está meio que morta. Está diferente.
Eu mudei-a. Talvez pertença a uma cabra, e tenha transformado alguém que movia mares por mim, numa mulher que perdeu a vontade de se apaixonar por um homem.
Ou então não, estou só a ser ingénuo. Talvez volte a olhar para alguém com os mesmos olhos que me olhou, e volte a acreditar na lenga-lenga de que os homens mudam. Eu nunca mudei.
A minha paga é sentir saudades dela todos os dias, sabendo que já não me ama. O meu maior medo é voltar a vê-la de mão dada com um outro homem, com amor para dar e energias para gastar.
Nesse dia talvez compreenda metade da dor que lhe causei. Nos dias em que disse que a amava à pressa, nos dias em que lhe menti, a deixei, ou fingi não ouvir as chamadas.
Ela vai continuar em frente, e talvez chegue o dia, em que realmente consiga mudar alguém. Até lá, continuo a amá-la. Todos os dias, talvez até para sempre.


Comentários

  1. Que esse homem futuro te dê valor.

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  2. Essa tua maneira de escrever é incrível! Adoro os teus textos, adoroo mesmo <3
    Continua a escrever, és maravilhosa.
    Beijinhoos e espero que tenhas muito sucesso!

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  3. Eu axo que, não a história nem as experiências, mas a descrição dessa mulher é um auto-retrato inconsciente :p

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  4. Eu axo que, não a história nem as experiências, mas a descrição dessa mulher é um auto-retrato inconsciente :p

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  5. As pessoas não mudam Inês. Só acabam sozinhas com alguém igual a elas. Beijo

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  6. As pessoas mudam. Mudam quando conhecem pessoas que valham a pena mudar. Tu és uma delas. Vais ser feliz à tua maneira. O que as pessoas dizem não te importa já reparei, e sinceramente fazes bem. Vive a tua vida. Um beijo!!

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  7. Identifico-me com tudo o que escreves, pode ser verídico ou apenas crónicas, mas nas tuas palavras vejo um pouco de mim, ou pelo menos um pouco de como dizem que sou. Há fases más e há fases boas. Os sentimentos podem dominar-nos por mais de 98% do dia, mas quando se perde alguém que se demonstrava ser tudo, quando se deixa de ter aquela mão para segurar, nem que fosse só para atravessar a rua, perde-se muito. Pareces ser uma pessoa que não desaba com facilidade. Gostava de ser assim.

    - C

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