Meias Verdades

Quando escrevi o "Desculpa, traí-te", fui bombardeada por mensagens muito diferentes. Desde pessoas que se identificaram, houve quem me tenha escrito a segunda parte da carta como homem, mulheres que gostaram de ler um final diferente para a história que tantas já tiveram a infelicidade de passar, e muitos (muitos) homens revoltados com a minha maneira de dar a volta ás coisas. Não passa de um conto claro, em que dei o meu final diferente à história. No entanto ler respostas que o homem acaba sempre por ser mais sincero porque admite as coisas, e as mulheres têm a capacidade formidável de levarem certos segredos para a cova, deu-me vontade de escrever "Meias Verdades", porque nunca ninguém contou uma verdade completa.
Admito todos os dias a mim própria e aos que me rodeiam que não sou perfeita, que já cometi erros e que já quase que me afoguei neles. Vivemos rodeados de pessoas que nos julgam, todos os dias a todas as horas. E se estamos todos destinados ao mesmo, então que me julguem por as verdades que não tive medo de esconder, e não por as máscaras que decidimos usar todos os dias, para nos protegermos de maus olhados. 
Todos estamos destinados a magoar alguém, e as pessoas que normalmente falam daquilo que lhes aconteceu,ou que lhe fizeram, esquecem-se que nós próprios vistos de fora, somos os outros.
Estive quase um ano separada do meu namorado. Separada ao ponto de não me lembrar que já tive uma relação, do que senti um dia, ou de quem fui nos dias que mantinha um compromisso normal e calmo.
E sinceramente olhando para trás, não há nada melhor do que ás vezes nos distanciarmos de tudo e mantermos uma relação somente connosco próprios. 
É possivelmente a relação mais complicada que mantemos, porque não há ninguém para depositar culpas, gritar, descarregar ou mentir. Nós somos as únicas pessoas culpadas dos atalhos menos bons que já tomámos, das decisões de cabeça quente, ou de as pessoas que não amámos e acabámos por nos envolver. 
Cada um lambe e sara as feridas como sabe, há quem faça da própria cama uma roleta russa, quem tente estar com o maior número de pessoas possível para se esquecer do gemido e do cheiro da pessoa que ama. Quem consiga realmente tratar pessoas que não ama por "amor", e manter um sorriso quando por dentro está a apodrecer. 
Há quem se afaste. Mude de grupo de amigos, mude até de cidade. Mude de ares, de corte de cabelo, de número de telemóvel e de guarda-roupa.
Mas as meias verdades que guardamos para nós próprios são sem dúvida o maior veneno que levamos dentro da nossa alma. Mentir-nos a nós próprios cansa, desgasta, enlouquece e emagrece.
Quando voltei a encontrar o meu namorado quase passado um ano e nos sentámos à mesa para falar, seria impossível contar-lhe todas as verdades, ou ele a mim. Há erros que nos hão-de consumir para sempre, porque partilhá-los torna-se demasiado doloroso para ser carregado por duas pessoas.
Partilhámos tanto um com o outro naquela noite, que no fim não me sobrou amor nenhum para lhe dar. Estava engasgada com tantas acusações, remorsos e "Dejavus" entalados.
No entanto cada vez que me apetecia espetar-lhe um argumento em cima e mostrar-lhe com vários exemplos que ninguém substituí ninguém, e que tinha tentado encontrar substituição em cobaias muito fracas, a minha consciência dizia-me que não tinha por onde pegar, porque até eu o tinha feito. Foi nesse mesmo momento que compreendi que ainda o amava. Que só alguém que ama, usa mil e uma ferramentas para tentar esquecer um corpo, e mesmo assim remói-se por dentro todas as noites que se deita.
Ele ainda tinha a minha fotografia na carteira, disse-me que a abria frequentemente e que gostava de me ver a olhar para ele, como se ainda ali estivesse. Eu tinha a minha ao lado da cama, acho que é óbvio o motivo.
No meio de tanta conversa, "porquês", justificações, choro, gritos e esclarecimentos, compreendi que aquilo que tentava esconder das pessoas que realmente amo, é aquilo que elas não precisam que eu lhes conte.
As meias verdades que contamos, são as meias mentiras que pensamos esconder de todos, até de nós próprios. O lado que tentamos mostrar a quem nos ama com medo que um dia, batam porta fora e nos deixem.
A verdadeira chave é enrolamos as nossas quedas em papel. Guardem-nas sempre. Um dia, vão servir de exemplo para alguém que verdadeiramente amam. Eu acho que vou guardar as minhas para o dia em que for mãe. Um dia longe daqui, quando me der vontade de rir das aprendizagens estranhas que a vida nos dá, e que me deu.
Julgar alguém baseado nos seus erros, é o mesmo que estarmos a assinar um acordo futuro com o Karma.
Tudo passa por todos, seja o rapaz que trai a namorada e guarda-o a sete chaves, remoendo todos os dias por dentro e com metade da consciência a tremer com o receio de um dia, a verdade vir ao de cima, ou a rapariga bonita que dentro de si, esconde a parte mais feia que lhe foi dada, e diz "Não faz mal, eu também".
Somos todos de carne, a carne peca, a alma lava.



(Obrigada por todas as mensagens, carinhos, miminhos e partilhas dos meus textos por as redes sociais. Devido a vocês,  quase 500.000 pessoas leram os meus textos. É muita pessoa.. )

Comentários

  1. "Cada um lambe e sara as feridas como sabe, há quem faça da própria cama uma roleta russa, quem tente estar com o maior número de pessoas possível para se esquecer do gemido e do cheiro da pessoa que ama. Quem consiga realmente tratar pessoas que não ama por "amor", e manter um sorriso quando por dentro está a apodrecer.
    Há quem se afaste. Mude de grupo de amigos, mude até de cidade. Mude de ares, de corte de cabelo, de número de telemóvel e de guarda-roupa.
    Mas as meias verdades que guardamos para nós próprios são sem dúvida o maior veneno que levamos dentro da nossa alma. Mentir-nos a nós próprios cansa, desgasta, enlouquece e emagrece."

    és fantástica

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  2. Identifico-me tanto com os teus textos que chega a ser assustador.
    Nunca pares de escrever.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Alegre és cá uma peça.. ( de valor).. Tens um futuro à tua frente.. ainda vais calar muita boca.
    Keep going girl !!

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  5. Olá Inês!! (Nem imaginas a minha alegria quando vi que havia mais um texto teu para ler) :D

    Eu sou apenas mais uma fã tua. Comecei a ler os teus textos à mais ou menos 2 meses e desde aí posso dizer que me apaixonei pela tua escrita. Agora, depois de ler mais um, a única palavra que me vem à cabeça é OBRIGADA! Obrigada por conseguires transpor desta forma os sentimentos em palavras, obrigada por mostrares os teus textos ao mundo, e principalmente obrigada por tocares tanto o coração de quem os lê!
    Nunca deixes de escrever. Um dia ainda hei-de ler um livro teu,ai não que não hei-de!!

    Beijinho grande, continua :)

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  6. li 2 ou 3 textos teus e achei uma bela merda!!! continuo a achar que dessa cabeçinha não sai nada de jeito.... anyway keep on eating shit PAPA-LEITE

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    1. Engraçado é que leste mais do que um... Será que não gostas mesmo? Será uma meia-verdade? Ah ah! Baza.

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    2. Quando vejo comentários deste tipo fico inevitavelmente perturbada. Perturbada pela falta de carácter daqueles que, anonimamente, tentam menosprezar o trabalho bem sucedido e, felizmente, reconhecido dos outros. A blogosfera está está sobrelotada de espaços como o da Inês, pelo que, mesmo com atualizações menos regulares do que os seus seguidores desejariam, este blog vingou. Tenho visto inúmeras partilhas e citações dos textos nas várias redes sociais. Tal acontece exatamente porque as pessoas se identificam com o que aqui é escrito e, falo no meu caso em concreto, gostam da maneira como é escrito. Independentemente da tua opinião não ser 100% coerente com a autora, o teu comentário demonstrou, acima de tudo, falta de sentido estético. Sim, porque escrita é uma fusão de conteúdo e forma e, na ausência de um, o outro pode prevalecer. A forma como ela expõe as várias temáticas em discussão é sublime.
      Desejo às maiores felicidades à Inês e espero realmente que todos estes comentários sem fundamento lhe sirvam de estímulo para fazer mais e melhor.

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  7. http://www.chiadoeditora.com/

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  8. Boa tarde! Entre em contato connosco: http://www.chiadoeditora.com/

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  9. Ai só invejosos neste blog, se os teus textos são uma bela merda então metade dos escritores, cantores e compositores são uma GRANDESSISSIMA MERDA ! essa cabeça é uma máquina de fazer dinheiro.. começa a procurar editoras, a ligar-te a pessoas do meio, cursos de escrita, investe que um dia vais ser grande e 5000.000 não vão ser nada para ti !!! e a editora chiado nunca vinha comentar em anónimo como estão aqui a fazer-se passar por cima. És brilhante miúda !

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  10. Sempre tão bom de se ler! Muitos parabéns!

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  11. escreves muito bem! um dia juntos os textos todos e fazes um livro. Eu compro!

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  12. escreve sobre um namorado q esconde coisas

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