Pontos nos "is".

Tenho-me ausentado nestes últimos tempos, porque o meu corpo e interior tem estado focado em outras coisas. Tem estado focado em matar saudades, focado em escrever aquilo que me parece ser o livro da minha vida, e focado em mim própria. Durante algum tempo, pensei que ia morrer. Depois virei a cabeça para o espelho que tenho pendurado no meu quarto, e vi a minha figura ridícula, toda borrada, despenteada, com mau aspecto, e com vontade de desistir de tudo aquilo que um dia, tive tanto gosto em descrever.
Para todas as pessoas que se encontram à beira de um esgotamento romântico&companhia:
         A melhor forma que temos de nos resguardar a nós próprios, e crescer dentro de nós e para nós, depois do mundo que conhecemos ter desabado e as pessoas que julgámos um dia ser eternas, só nos virem assombrar à noite, é trancar-nos dentro de nós próprios e de uma divisão vazia de memórias. O meu quarto foi todo pintado, esvaziado, e neste preciso momento só tenho a minha cama de casal, a minha ventoinha, e o meu candeeiro. Precisava de olhar para a frente e não pensar em nada.Não é que a minha cama de casal ou o espaço vazio em que tornei outrora algo tão cheio de memórias, não me traga por vezes um vento incansável de memorias, de risos, de momentos e de pessoas, mas a opção de o esvaziar e trazer memórias minhas, nem que seja a de um coração partido, faz com que um dia me torne mais forte.
Um grande amor quando acaba, mata qualquer coisa dentro de nós. Ainda hoje não sei descrever o que acabou exactamente dentro de mim, porque ainda hoje não consegui fechar as portas ao amor, de tão grande que foi. Teima que não consegue passar pela porta, que ainda está gordo, que quer ficar ao meu lado para emagrecer e um dia ir-se embora.
Como deixamos alguém de quem gostamos ir-se embora? Da mesma maneira que deixamos alguém entrar na nossa vida, para quase de certeza um dia ficarmos sem ela. Dói,remói, mata-nos o estômago, e o coração mil e uma vezes, mas no fim, conseguimos.
Quando meti na minha cabeça que o Luís não era o homem da minha vida, por deixar terceiros com línguas cheias de comprimento e pouco conteúdo lamberem a nossa relação, guardei para mim mesma um rancor imaginário e pouco saudável por ele. Que desapareceu instantaneamente quando o abracei e beijei de novo. E então compreendi. Um grande amor esquece-se, admitindo o quão grande foi. Não nos mentalizando que não é certo para nós, e que foi assim que o destino quis. O destino por mim pode-se ir foder juntamente com o resto que me tem atormentado nestes últimos dois meses. Com ele, pode levar também a vontade insaciável de voltar atrás, de viver no passado, de pensar que a minha vida é um big brother e um dia vou poder revelar imagens, a minha ingenuidade ao acreditar em certas pessoas, e a vontade e desejo que tenho de calar a boca ao mundo.
No fim, é isso que nos sobra, amor. Os meus tops da zara, as minhas sweats de marca, e o meu quarto tão bonito e cheio de coisas novas, não me dá metade do que me dava olhar para o Luís todas as manhãs. E aí está a essência das coisas.
Por isso pensei, e escrevi sobre isso. Todos nós, vamos passar por más fases dentro das nossas relações, vamos amar e não vamos ser amados, ou então vão-nos amar e vamos estar nem aí. Vamos sofrer, vai-se falar histórias que não são verdade, e vai haver sempre um maluco, se for como no meu caso, que de X em X anos sai à rua para ser maldoso e atormentar a vida a alguém. Compreendi que uma das grandes maiores formas de amor, é deixarmos ir a pessoa que gostamos, por saber que é o melhor para ela. Foi o que fiz com a pessoa que mais vezes me disse que me amava na vida e que nunca me ia deixar. Soltei-a. E acredito que se um dia estiver destinado a voltar para mim, ele volta. Daqui a um mês, um dia ou um ano, com ou sem namoradas por anos, eu e ele nascemos para marcar a vida um do outro. E quem se marca de verdade, não desaparece. Essa é a realidade. Há pessoas que estão destinadas a não desaparecer das nossas vidas. Vêm de tempo em tempo, são raras e quase nunca damos por elas por tão presentes estarem e parte de nós fazerem. É a capacidade de as preservar, que distingue os cabrões e as cabras, dos senhores e das senhoras.
Foi assim com o Luís. Ele veio numa madrugada qualquer, olhámos nos olhos um do outro e nunca mais nos largámos. Uma coisa algo pirosa e quase a parecer ao dar para o filme, mas verdadeira e com sentido. Depois de ter passado quatro anos sem problemas, e quase dois meses cheios de drama, dias de insegurança, dias de amor, dias de choro e gritaria, dias de desassossego e sentimento de vazio na barriga e no coração, compreendi que o que deixei no passado, preservará o meu futuro. Foi algo tão intenso e tão bonito, que por mais que se fale, e por mais que se queira matar o peixe pela boca, há coisas que nunca vão desaparecer.
A maior verdade, não é aquela que ganhamos em debates nem em grandes conversas, mas aquela que carregamos dentro de nós. Ninguém pode entrar em ninguém e ver-nos por dentro, mas sabemos que alguém foi quase o amor da nossa vida, quando esteve quase nesse ponto.
E foi assim que me decidi deixar ficar. Na expectativa de um dia, o que o John Lennon disse ser verdade, que o que é nosso sempre a nós volta, que um dia vens viver para minha casa, rimo-nos de tudo o que passámos, que estes momentos um dia vão ser sábios conselhos para as gerações que poderíamos ter criado. Que o tempo vai-te curar a ti, e no vento que nele contém, levar boa vibe e menos intrigas a todos aqueles que te rodeiam e te comem o que resta da tua sanidade mental. Que nos vai curar a nós. Que todos os erros que ainda vamos cometer os dois nestes próximos tempos, vai-nos acabar por juntar no mesmo cesto, e deixar-nos colher os frutos daquilo que um dia sonhámos por nós.
Há muita coisa que acaba, relações, histórias, temporadas, situações, sentimentos, mas aquilo que é verdadeiro e nasceu para singrar, singra e fica.
E como eu quero que o destino se foda, quero que ele queira o mesmo comigo. Que me deixe ir normalmente, encontrar o caminho de novo, para aquilo que um dia foi, a nossa rotina.
Não troquem quem amam, por aquilo que vos parece certo. Não tomem decisões demasiado contentes, nem tenham conversas sérias com a cabeça quente. Amem quem vos ama. Tratem bem uns dos outros. Não falem nem desfaçam de quem está ao vosso lado, porque what goes around, comes around.
Apaixonem-se, mudem de número, mudem as fotos das molduras. Acreditem em vocês e naquilo que faz parte de vós, e não em outros. Vivam a vossa vida como alguém singular, sem figurantes, nem protagonizadores,  e o realizador que seja sempre vocês.
O destino que se foda. São só balelas. Já lá estive e voltei para confirmar.
Um beijo. Bom fim-de-semana.



Comentários

  1. https://www.youtube.com/watch?v=gY437naZIWI

    Olá Inês. Toma nota do que diz a Simone nesta música. Tem muito que ver com o que nós humanos passamos na realidade... Aquilo que tu passaste, aquilo que eu passei... E os teus textos estão bem certos :)

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