Foder o amor.



Ele prometeu-me mundos e fundos, rosas e chocolates, boas tardes e boas noites. Nunca gostei que me chamassem por “Inês”, porque sempre associei que vinha tópico sério. Mas aprendi a gostar que ele tivesse o meu nome na boca. Aprendi a gostar da boca dele, do toque dele, do cheiro dele. Houve noites que me enchi com o perfume e os gestos dele, para tentar a teoria da troca. Associar-me a mim, associar a outros, que não ele. Mas como é que se troca alguém que nos faz bem? Que nos dá a mão enquanto dorme, que nos agarra, que nos diz e dá a entender que enquanto ele estiver ali, ninguém nos faz mal? Como é que se desapaixona? Passo a vida a dar conselhos nos meus textos, sobre o que desculpar e não desculpar, o que é aceitável e o que passa os limites, mas a pólvora secreta ainda não a encontrei. Estou na expectativa que quando tiver os meus sessenta anos, estiver no meu quintal à frente do meu portátil avançado da altura, vai-me dar um clic e aí vou saber como tirar o toque de alguém da nossa pele. É por isso que vou ficar conhecida. “Inês Alegre descobre o segredo para se deixar de amar”. Eu acredito que com quase vinte e um anos, o verdadeiro segredo é deixar de acreditar no amor. Eu acho que não consigo. Não está no meu DNA. Sou uma romântica incurável, vejo nos mais ínfimos cabrões a possibilidade de mudar e querer apenas uma mulher, e morrer por essa mesma, e nas cabras sem coração já com estes partidos e más escolhas no passado, uma hipótese de rendição, tal e qual como na Bíblia, de chegar um príncipe não a cavalo branco, mas até a pé ou bicicleta, montado num audi ou num fiat 500 antigo, que lhes mostre que é possível ser-se feliz, apenas sendo.
As segundas oportunidades só existem na cabeça das pessoas. Nós passamos todos os dias das nossas vidas, a dar uma oportunidade atrás da outra. Aquelas que engolimos e esperemos que com o tempo se corrija, aquelas que não contamos ás nossas melhores amigas com medo de ouvirmos o “bem te avisei”, o “bem te avisei” que dizemos a nós próprias ou a oportunidade que damos a nós próprios, de acreditar.
A Charllote do “Sexo e a Cidade”, diz que não compreende como podemos esquecer alguém com quem dormimos. Eu estou um bocado nessa com ela … Se bem que quando falo com os meus amigos rapazes, que são pouquíssimos, mas bons, eles dizem-me muitas vezes que estar com alguém, não é amar essa pessoa. Aliás, um até foi bastante explícito e me disse que “Dar pinadas não quer dizer estar com essa pessoa.”
 Nós mulheres, em geral, temos o defeito de fazer de tudo um vídeo-clip. Quando vamos no elevador e nos vemos ao espelho, quando estamos presas no transito, quando estamos sozinhas no quarto e nos olhamos um milhão de vezes ao espelho com música por trás, ou resumidamente quando estamos com um homem. Por isso, acho que nunca daria uma boa cabra. Ser cabra, uma boa cabra, e não ofendendo quem o é, porque até tem a sua piada e independência … Significa não ganhar sentimentos, não ter afectos muito próximos, não sentir necessidade de mandar ou receber mensagens, ou seja, construir uma barreira mental entre os corações, mas deixar uma aberta entre o meio das pernas de cada um.
Portanto, como se esquece um cabrão? Assumindo e calçando os sapatos de mulher fatal? Ou deixar-nos ficar como boas samaritanas e esperar que venha outro que nos dê a mesma segurança e vontade de andar de mão dada ( a dormir ou acordada) ? Ou vice-versa ... como é que um bom rapaz esquece a mulher que lhe partiu o coração? Vai sair para a noite e espera fazer bingo? Em trezentas encontrar a tal que não lhe vai meter os chifres e mudar os nomes do telemóvel quando chega ao pé dele? Ou desiste e acredita que as coisas hão de ganhar rumo por elas próprias? O meu pai dizia-me que o melhor caçador de borboletas, é aquele que as deixa pousar nos joelhos, e não o que anda a correr a ver se as apanha.
As coisas naturais são sempre mais bonitas. Não prometas mundos nem rosas. Momentos chega, rosas picam.

Comentários

  1. Impressionante a clarividência com que escreves, e como a tua escrita destila emoções vivas e bem reais. Difícil encontrar isso numa pessoa da tua idade. Parabéns! Crítica construtiva: ultrapassar pequenos erros ortográficos (ex: "há" algum tempo / e não à algum tempo) ;)

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  2. Acho que muitas de nós somos românticas incuráveis e amantes incuráveis. Tudo se baseia no amor. E claro que fazemos de tudo um videoclip, amei essa parte, por ser tão real. Mas depois vem a vida real a acompanhar, e de facto não temos a poção mágica para deixar de amar, por mais "cabrões" que sejam, foram o nosso porto seguro, o abrigo que mais seguras nos fazia sentir. Como ultrapassar isso? Ainda não descobri. Acredito que com a sorte de alguém que lute por nós e nos faça ver que há mais amor para além daquele que depositámos num só "cabrão". Se descobrires entretanto ajuda-me por favor, estou a precisar. ;)

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