E agora?

"E agora?"
Esta foi a pergunta que ouvi repetidamente na minha cabeça, desde o dia que soube que começaste a viver em mim.
"E agora, o que é que eu faço? Ok sei cuidar de um Golden Retrivier com displasia na anca, mas talvez não seja a mesma coisa que tomar conta de um bebé..." - pensava eu, inúmeras vezes, enquanto passava a mão na minha barriga, cheia de dúvidas e medos.
E se eu sem querer rebolar para cima do bebé, e tornar-me numa mãe homicida?
Ou faça a comida quente demais? Salgada demais? Doce demais? E então fazer a comida? Eu sei lá cozinhar, queimei o último lanche de crepes que planeei fazer!
Vou ter que aprender a mexer na máquina de lavar? Vou ter que ter sempre a casa arrumada? Não vou poder fumar mais dentro de casa é isso?
E o meu corpo? O que é que vai acontecer com o meu corpo? Vou deixar de ter pernas de caneta e bracinhos de alfinete? O que é que vai acontecer com o meu peito? Com a minha pele?
E o meu sono?
Será que o Nuno vai continuar a achar-me intelectualmente interessante dentro da minha confusão, quando tiver um bebé agarrado a uma mama, as pestanas e a depilação por fazer, e o cabelo por lavar?
E os empregos? E o sonho de ser escritora? E o tal trabalho das nove às cinco, numa secretária linda, com a fotografia dos meus filhos e marido, que tive depois de conseguir esse mesmo trabalho de sonho?
"Tudo ao contrário Inês, tudo do avesso, tudo sem sentido."
E agora?
É que quando somos miúdas, ninguém nos fala destas coisas; que são precisos dias, semanas, meses e por vezes até uma vida, para compreendermos o que é ser "mãe".
E não me levem a mal, mas eu nunca cresci nem com a fantasia de me casar, nem de ser mãe.
A minha fantasia era ser bem sucedida, saber dizer o certo na altura certa, enfrentar a vida da maneira mais independente e fantástica que conseguisse, e isso não incluía um bebé agarrado à minha mama (pelo menos por enquanto).
Mas pior que todos os medos naturais que uma mulher já sente, a necessidade de ouvir opiniões de alguém que nunca conhecerá nem a nossa mama, nem o nosso bebé, foi o que me fez mudar de direcção e começar também a escrever, sobre vir a ser mãe.
As pessoas perguntam-te tanta vez "E agora?", que chega a uma altura que nem tu própria sabes responder.
E os trabalhos?E os vossos estudos? Quais são as tuas habilitações, e as do pai? Têm casa própria?E carros? Foi planeado? Estás pronta? Cuidado que se for menina rouba a beleza à mãe! Já pensaste que se as coisas não derem certo, o teu filho também terá os pais divorciados? Um filho acaba com uma relação!Já tinhas essas borbulhas antes?- vou deixar de fora as teorias e conselhos, fica para o próximo.
Chega a uma altura em que nos deixa de apetecer partilhar o evento possivelmente mais importante das nossas vidas, porque estamos fartas de sentir o nosso medo,e o que os outros incutem em nós, propositadamente e sabendo tão bem o que nos faz.
A verdade é que há sempre alguém assim perto de nós, é aquela personagem mascarada de amigo, que quando contamos que vamos arranjar um cão, ou nos mudar com o nosso namorado, nos franze a sobrancelha e fala do assunto como se fosse ele a levar o cão à rua, ou a apanhar as peúgas sujas casa fora.
Mas numa noite imaginei-te, desenhei-te aos meus olhos, recordei-me de mim mesma há muitos anos atrás, e lembrei-me do quanto me fez falta, ter uma melhor amiga ao crescer, como sei que consigo ser tua.
Lembrei-me que embora ainda não houvesse secretária, emprego de sonho, ou mesmo garantias que tudo haveria de ficar bem, eu transformaria o caminho menos complicado, nem que fosse só aos teus olhos. 
E nesse mesmo momento, o medo morreu, assim como todas as dúvidas que o acompanhavam.
Porque quando um dia eu me for, tu , meu querido bebé, serás a prova viva de que um dia eu existi.
Dentro de ti, viverão eternamente os amores falhados, os que deram certo, as madrugadas e os meus erros, que os repetiria sem vacilar, se soubesse que tinham de acontecer para mais tarde te ter.
És a continuação do meu livro, da minha história, o volume que se segue, sem comparação sequer ao primeiro, porque a vida é mesmo assim, e até me deixa feliz. 
Descobri que estava grávida, e que te trazia nas minhas viagens e no meu corpo, dia 16 de Setembro de 2018.
Automaticamente tornei-me tua mãe, e não, não foram pelos enjoos, pelas borbulhas, nem pela pequenita barriga que agora crias em mim, que percebi que ia ser mãe.
Foi quando senti que por ti, pela tua existência e por a história que um dia vais ter por contar, o amor e vontade de te proteger já eram maiores que qualquer medo.
Porque enquanto existir vida em mim, não há medo que abafe a vontade de te conhecer, nem de te vir a tornar, em alguém, que apenas vai ser ele mesmo.
Ainda não temos a certeza absoluta daquilo que virás a ser, o que eu penso guardo para mim.
Sei apenas que nascerás em Maio de 2019, que há a possibilidade de celebrares o teu aniversário no mesmo dia que a minha querida avó, e que sei que antes de vires parar ao meu peito, estiveste no dela. (aproveita, que o meu nem metade consegue ser)
Sê a melhor versão de mim e do teu pai, que as tuas asas construiremos nós, ao longo do tempo, com a certeza e confiança que voar, estará sempre escrito nas estrelas para ti.
Até daqui a cinco meses.
A tua mãe. 




Comentários

  1. As maiores felicidades aos quatro (Jack incluido!) beijoca

    ResponderEliminar
  2. Que lindo 😍 fico tão feliz por esta tua nova fase 😊 muitas felicidades ❤

    ResponderEliminar
  3. Muitas felicidades e que tudo vos corra bem

    ResponderEliminar
  4. Felicidades para ti e seremos sempre exelentes mães, mais que tudo eles ensinam-nos uma forma de estar na vida tao plena e confusa que se torna espetacular, o verdadeiro sentido da vida❤️

    ResponderEliminar
  5. Inês,a tua carta para o teu futuro filho/a fez-me deitar uma lágrima no canto do olho.Essa criança é uma sortuda,pela mãe que tem e pela forma que sei que a vais educar.Podes estar cheia de medos e dúvidas,mas nasceste para interagir e ajudar.e tens um jeitão com os miúdos(que eu já vi). Sortudo Nuno,sortudo bebé, sortuda mãe!

    ResponderEliminar
  6. Inês já podes começar a usar a fila prioritária no supermercado haha!vi-te no outro dia, estavas sozinha às compras, e tiveste uma atitude muito bonita!Saíste da tua fila para ires ajudar uma senhora velhota a pagar as coisas na caixa automática. Grávida e sozinha, tinha de dizer isto porque fiquei emocionada.mas ag a sério filas prioritárias melher! �� beijo bom super mãe!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares