blá blá

Então, eu tenho tentado escrever alguma coisa, pelo menos para este blog. 
Escrevo e apago, volto a escrever e apago a seguir. 
Pela primeira vez estou a tentar mostrar-me como sou, longe de textos teatrais que representaram uma fase tão feia da minha vida, mas que me aproximaram de tanta gente, que se pudesse voltar atrás, teria feito tudo outra vez. 
Teria voltado a entrar voluntariamente em sítios que saberia sair magoada, só por saber a viagem que fiz até aqui. 
É o meu lado bom a vir ao de cima, acho eu. 
Ou então sou só eu a camuflar o meu lado meio psicótico, mas a realidade é que me começo a cagar, e desculpem a expressão, cada vez mais, para o que as pessoas pensam ou deixam de pensar.
Longe de palavreado caro, de situações de nostalgia e do açúcar que fazia questão de meter em qualquer coisa que escrevesse. 
Ao longo dos anos recebi mensagens que perdi a conta, fui abordada na rua, recebi comentários muito bonitos e outros muito feios.... 
E a verdade mais crua é que já não me reconheço no que escrevi.
É engraçado o quanto as pessoas se deixam de identificar com elas mesmas com o passar do tempo.... 
Há quem diga que nada muda do dia para a noite, mas a verdade é que muda. 
Tudo muda, dependendo daquilo que te acontece e te toca. 
Eu não sou a mesma Inês de há três anos atrás, nem a mesma de há três meses. 
Não sei se fique agradecida por isso, mas faz parte de crescer. 
Parte de mim continua-se a sentir como a miúda que era aos dezasseis anos.
Cheia de inseguranças, tão pouco certa do dia de amanhã. 
Sem compreender nada de mim mesma. 
Com um terror enorme por quem me rodeava, sem nada para dar ao próximo, sem saber sorrir de volta ou dizer uma palavra gentil que fosse. 
Não era má, era só a minha forma de mostrar o descontentamento que sentia dentro de mim.
Encontrava paz, unicamente ao estar sozinha. 
Odiava estar ao pé de pessoas. 
Odiava ouvi-las falar. 
Às vezes ainda odeio, mas tento controlar esse meu lado, como acredito que o deves fazer à medida que a maturidade te vai dando chapadas na cara.
Talvez seja por isso que o meu grupo de amigas é o mesmo desde que me lembro, e até delas por vezes tentava escapar-me. 
Não porque não as amava, eu amava-as.
Mas tinha sempre a sensação que estragava o que tocava.
Longe de mim querer quebrar quem amo, como sei que já o fiz.
Se me olhar ao espelho durante muito tempo, vejo essa miúda ao meu lado. 
Meio partida, farta de acordar todos os dias.
A arranhar o que deveria ser bom, e a escrever as paredes do quarto de uma ponta à outra a explicar o porquê, de ser desta forma. 
Nunca cheguei a nenhuma conclusão.
Talvez eu não tenha sido feita, para ser compreendida.
Mas decidi enterrá-la. 
As pessoas ou gostam realmente muito de mim, ou não gostam nada. 
É um equilíbrio muito desequilibrado, que chega a ser bonito. 
Quando era mais nova o meu pai passava-me a mão na cabeça, e dizia-me sempre que um dia, ia partir muitos corações. 
Pela minha forma de ser.
Nunca mudei o que pensava ou queria por ninguém, e é aí onde já não me revejo.
Já não consigo ser essa pessoa. 
Ou então, talvez nunca tenha encontrado ninguém por quem pensasse, que às vezes mudar também pode ser bonito.
Agora compreendo o meu pai, que tinha só medo de me tornar no mesmo que ele também, já foi. 
Um coração tão partido que acaba por não compreender o que vai partindo à volta. 
Fui educada para viver e morrer da minha forma.
E foi isso que fiz, matei-me enquanto estava viva. 
Se vale a pena? 
Não sei. 
Talvez não valha, mas foi assim que aprendi. 
Se isto fosse um filme, agora era a parte em que aparecia uma piscina qualquer com um fundo enorme, e vias uma miúda a afundar-se aos poucos e poucos.
E o pior de tudo, é que é ela que se afunda, e até não lhe sabe mal de todo.
Porque afinal, não sentir nada é melhor do que sentir tudo, pensava eu. 
Por isso foi isso que fiz, deixei-me afundar até ao dia, em que houve uma parte de mim que se debateu muito por respirar. 
"Já chega Inês".
Há quem lhe chame depressão, na minha família dizemos só que os corações partidos pesam mais do que inteiros. 
Não sei se já estou a respirar, não quero escrever algo que mais tarde me bata na cara e no ego. 
Se assim o for, terei mais mil e um textos para partilhar com gente que não me conhece.
Mas a verdade, é que começo a sentir outra vez, uma vontade muito grande de reencontrar alguém que perdi no fundo da piscina. 
Eu.
E sendo verdadeira como às vezes não o sou, não o fiz sozinha. 
Precisava mesmo que alguém me voltasse a mostrar que respirar é bom, que estar na superfície é bonito. Que vês mais cá em cima do que lá em baixo. 
Acordar tornou-se bonito.
E se daqui a nada se tornar outra vez menos bonito, que se lixe também.
Pelo menos tenho um pouco mais que coisas menos bonitas para partilhar.
A minha casa não é mais um amontoado de memórias tristes dos dias, meses, e até anos em que pus a chave sabendo que não ia encontrar nada lá dentro, sem ser a Inês que não gostava. 
Já consigo deixar alguém passar pelo corredor sabendo que está escrito de cima a baixo, já consigo abrir a porta e deixar que seja mais do que só a minha casa. 
Nunca quis ninguém no meu espaço, sentia que era o único sítio que me pertencia.
Mas é mentira, o que te pertence é o teu coração e a vontade de viver.
Estava a enlouquecer, eu e os meus pensamentos, que são tão altos, fechados num espaço.
Abri as janelas, sabes.
E o vento que criou a desordem, é o mesmo que a limpou.
O leque de cores aumentou um bocado, e às vezes estás a dormir e eu escrevo-te com o dedo no peito frases que não te consigo dizer. 
"isto é um momento de artista?" 
Tenho noção que sou uma melhor escritora quando estou em dor, porque a dor é comum a todos e ligamo-nos mais rápido. 
Sabemos melhor o que custa ficar sem nada, do que as poucas alturas em que sentes tudo. 
Mas deixa-me estar assim durante uns tempos, deixa-a no fundo da piscina e põe-lhe pesos nos pés. Mata-a de uma vez. 
Se ela gritar muito, relembra-lhe que ninguém se alimenta disso.
De nada.
Não faças com que volte a vir ao de cima, todos os medos e demónios que vivem em mim. 
Está na altura de esquecer, que houve uma altura, em que falar com mortos me fazia sentir viva.


Comentários

  1. Abram alas k a rainha tá de volta

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  2. Sendo o mais sincera que consigo ser,há uns tempos abordei-te a perguntar se eras a ines ja sabendo que eras, e a tua primeira reacção foi dar-me um abraço e dizer que sim. nao sei se há assim tanta gente a não gostar de ti, mas se há... tenho um nome para isso. és linda linda. tudo o que escreves, toca nas pessoas, ajudas as pessoas.. obrigada por existires Ines Alegre!nunca pares de escrever, um dia vou-te ver num sítio muito alto,e nesse dia vou ficar feliz.obrigada!

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  3. bla bla que ela sabe do que fala

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  4. és o diabo em forma de menina

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  5. Arrepia omg a melhor de todos os tempo ❤ um dia o teu nome estará bem mais alto, continua

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  6. "Está na altura de esquecer, que houve uma altura, em que falar com mortos me fazia sentir viva."

    Porra, é de pessoas como tu que ainda me fazem orgulhar da geração em que nasci. Em que a inspiração não sai de programas de "Teresa Guilherme" e da Endemol. Parabéns por isto tudo que consegues transmitir. És genuína e real! ❤

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  7. A minha opinião da interpretação deste texto é que a autora está a ser irónica, por isso é que o titulo é "Bla bla".
    Como quem diz que está a dizer o que as pessoas querem ouvir para ficar no mundo e agonia dela. por isso é que fala em falar com mortos.
    tanto k diz que "Nunca cheguei a nenhuma conclusão.
    Talvez eu não tenha sido feita, para ser compreendida. "
    bla bla bla para ouvidos mudos

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  8. "Tenho noção que sou uma melhor escritora quando estou em dor, porque a dor é comum a todos e ligamo-nos mais rápido.
    Sabemos melhor o que custa ficar sem nada, do que as poucas alturas em que sentes tudo.
    Mas deixa-me estar assim durante uns tempos, deixa-a no fundo da piscina e põe-lhe pesos nos pés. Mata-a de uma vez.
    Se ela gritar muito, relembra-lhe que ninguém se alimenta disso.
    De nada.
    Não faças com que volte a vir ao de cima, todos os medos e demónios que vivem em mim.
    Está na altura de esquecer, que houve uma altura, em que falar com mortos me fazia sentir viva."

    wow

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  9. Bom dia Inês.
    Espero que esteja tudo bem contigo.
    Eu já acompanho teu blogue já há algum tempo, e tenho de agradecer a quem me mostrou que existias. Que existias tu e os teus textos.

    Eu também tenho o meu blogue de escrita que partilho com alguns amigos mas não se compara o teu. Criei-lo um pouco conforme este teu texto diz: nasceu da dor.
    E admito, a dor é o maior catalisador para os textos mais bonitos, ainda que tristes e melancólicos.

    Quero apenas dizer... obrigado. Obrigado por existires e me permitires ter quase uma inspiração, um mestre nesta nossa arte que partilhamos, neste dom que possuímos.
    Admito que alguns textos teus me têm influenciado e embora não tenha plagiado nada teu, admito que me influenciaste a maneira como escrevo.

    Provavelmente não verás o comentário, pois sou mais uma sombra entre tantas.
    Mas mais uma vez, obrigado.

    Um beijo,
    Filipe Gomes.

    (Se por acaso leres e quiseres conhecer o blog: www.memoriasdeumasombra.blogspot.com)

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  10. Inês!
    Lembro-me de ti há tantos anos e há uma coisa que nunca mudou em todo este tempo,a forma distante que tens mesmo quando poderás estar perto.
    Eu acho isso muito bonito, és um ser humano muito bonito.
    Muito menina de planetas e longe daqui, mas linda linda linda.nunca entendo se o que escreves é ficional ou biografico,mas desejo-te todas as felicidades, e sortudo do homem que te encontrar e conseguir-te fazer apaixonar por ele
    tantos livros q vai ter eheheheh
    Beijo

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  11. https://www.youtube.com/watch?v=8GRnKh2XdtU

    ;)

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  12. não consigo sequer falar depois disto.... OBRIGADA Inês :)

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