Caminhos

Houve uma altura, ( às vezes quase que parece em outra vida ) que gostei tanto de alguém que quase me matou.
Parece ridículo, parece que estou a romantizar , ou a transformar um "quase que aconteceu" numa história bonita de amor, mas não.
É a verdade.
Não foi uma maneira de chamar à atenção, não foi um grito de socorro nem sou eu a dar a minha parte fraca, sou eu como mulher e ser humano a dizer sem medos e vergonhas, que há realmente momentos e dias na vida de alguém, que a vida nos dá uma chapada tão grande que demoramos meses e meses a nos conseguirmos levantar novamente.
Perdi a conta às noites que me deixei ficar deitada a encarar o teto do quarto só porque sim, a ouvir-me a mim mesma respirar só para ter a certeza que ainda estava viva, as poucas vezes que me quis olhar ao espelho ou a impaciência que é esperar sem ter nada à nossa espera.
O pior de tudo são as mentiras que nós, conseguimos contar a nós mesmos.
Até perdemos a conta.
Que vai ficar tudo bem, que as tempestades às vezes são necessárias.
Que vais conseguir preencher a falta de uma pessoa, com outra.
E que com o tempo aprendes a amar alguém.
E quando dás por ti deixas de ser alguma coisa.
Já nem sabes se estás numa tempestade, ou se foi o teu corpo que se transformou numa.
Os conselhos são quase sempre os mesmos.
Desde o tempo curar tudo, às tuas amigas mais chegadas a tentarem desenhar-te que há pessoas que não te merecem.
É uma montanha-russa enorme em que vomitas em cima de ti próprio vezes consecutivas, até acabar e saíres sozinho, quase sem ter a certeza se realmente gostaste de alguém ou se passaste um período que gostaste só menos de ti mesmo.
O processo doloroso que é sair duma viagem que não devias ter percorrido, leva de ti partes que possivelmente não voltas a encontrar.
A ingenuidade de acreditar nos outros, a passividade que é desculpar porque gostamos, a vontade de sair da cama porque talvez, seja naquele dia, ou naquela tarde, que o que sonhaste de noite se torna realidade no dia-a-dia.
O mais engraçado, é que no fundo tu sabes.
Eu sempre soube.
Tu sabes e tens a consciência que, as coisas só não dão certo porque não há o que deveria haver de ambas as partes.
Tu sabes que embora deixasses tudo a meio de alguma coisa que importasse, eras só tu que o farias.
E isso não pode fazer sentido, deixa de fazer sentido.
Tornando-se depois, depois de muitas noites em branco, outras muito escuras e cheias de peças que tentas colar para completar algo que é vazio demais, na aprendizagem bonita que são, os dias mais feios da tua vida.
Embora percas muito de ti, nas descidas e nas subidas que a tempestade causou em ti, ganhas quase que imunidade à próxima promessa selada com cuspo que tentem pôr-te no caminho.
E consegue ser positivo, porque desta vez, sabes que quando te apaixonares de verdade, te vais apaixonar por alguém que selou a carta que é, a verdadeira carta do amor, com o sangue que lhe corre nos pulsos e o amor que lhe bate no coração.
Não com cuspo, cinzas ou palavras ditas ao acaso que embora a pessoa se tenha esquecido, em ti marcou-te mais do que devia.
Outra coisa fantástica sobre te partirem o coração, é que ele se regenera.
Regenera-se a um ponto tão bonito, que de repente, um dia, quando as coisas voltarem a ter algum sentido e te voltes a apaixonar por ti mesma quando te vês a passar de relance num espelho qualquer, esqueces-te do quanto já sofreste.
A tua memória apaga de ti os dias menos bons, as palavras menos bonitas, o coração que te partiram e os outros que partiste.
Entregam-te uma nova oportunidade de seres feliz, até pode nem ser a última, mas de repente, e por instantes, é-te dado outra vez a possibilidade de amares alguém de verdade.
O tempo não cura tudo, e sim, há pessoas que não te merecem.
Tal com tu não mereces certas pessoas.
Mas no caminho e na viagem tão estranha que é a vida, que nunca sabes onde e como acaba, a verdade é que cabe a ti percorrê-la da melhor maneira que sabes.
Claro que nem toda a gente vai compreender a forma como te vives, mas só há uma verdade nisto.
Os outros não importam.
Sê gentil e oferece bondade a quem não tenha feito o mesmo, porque no fim estamos todos a tentar encontrar algum conforto num caminho que nem escolhemos percorrer.
Perdoa os outros e perdoa-te a ti mesma, porque em outra casa, há alguém que também encara o teto e tenta tirar palavras que te esqueceste, que disseste.
É estranho o quanto as viagens se cruzam e se esbarram umas nas outras, mas se o tempo não cura tudo, então tudo acontece para darmos tempo ao tempo, de pôr no nosso caminho, quem se deixe ficar.







Comentários

  1. Adoro-te tanto! Que orgulho de seres portuguesa! A prova viva que existem escritores que lêem a alma é por incrível que pareça, sempre que é preciso! Obrigada. Mil obrigadas!
    Filipa <3

    ResponderEliminar
  2. "A ingenuidade de acreditar nos outros, a passividade que é desculpar porque gostamos, a vontade de sair da cama porque talvez, seja naquele dia, ou naquela tarde, que o que sonhaste de noite se torna realidade no dia-a-dia.
    O mais engraçado, é que no fundo tu sabes."

    ResponderEliminar
  3. "O processo doloroso que é sair duma viagem que não devias ter percorrido, leva de ti partes que possivelmente não voltas a encontrar."
    é isto!!!

    ResponderEliminar
  4. às vezes penso um bocado como seria namorar com uma pessoa igual a ti, do genero acordar a meio da noite e estares tu a escrever à beira da janela x)

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares