quem sou
Sou a Inês,
tenho 23 anos e sou de Faro.
Desde que me
lembro que escrevo.
Nunca achei
que fosse uma arte ou um talento, pelo menos no meu caso, porque sempre fez tão
parte de mim que sei lá, era a forma mais simples que arranjava de me
expressar.
Muito antes
de ter tornado este blog público, tive dezenas de blogs espalhados pela
internet, anónimos, com outros nomes e com coisas muito diferentes do que
honestamente ponho no “Quero-te Inês”.
Tive diários
durante toda a minha vida, tenho caixas e caixas de textos e pensamentos soltos
, e as paredes cá de casa estão forradas com excertos e textos meus.
Às vezes
acho que escrever corre-me mesmo no sangue, daí dizer que nunca achei que fosse
um talento que tivesse.
O meu pai
escreve brutalmente bem, tem livros e contos publicados, a minha mãe
igualmente.
Tenho primos, primas, tios e tias, que escrevem igualmente bem e
até nos meus avós posso ir buscar uma facilidade em se expressarem e escreverem
que me leva a crer, que venho de uma família de letras.
Cresci e fui
educada de uma maneira que penso me levou a ser uma pessoa que ao longo da vida
não se identificou com muitas outras.
Não venho de
uma família dita normal, os meus pais separaram-se numa idade em que eu nem
consegui compreender exactamente o que era o amor que podia ligar duas pessoas,
dividi-me muito entre dois mundos e talvez isso tenha originado uma pessoa
confusa e ainda um pouco à procura daquilo que quer ser.
Não te
consigo dizer que “Quero ser escritora”, porque a realidade é que eu sou uma.
Ganhar a
vida com o que realmente és, depende depois da tua força de vontade e acredito
que, da força de quem te rodeia.
Nunca quis
ir para a Universidade, sempre tive umas ideias muito fixas e até próprias de
como o ensino de educação está preparado e até formatado para formar pessoas em
ovelhas e seguirem o rebanho.
No entanto
acabei por ir, talvez na altura para provar à minha mãe que o não querer ir
para a Universidade, não era porque não conseguiria ser licenciada, era só
porque não me identificava com nada do “conhecimento” que dizem ser importante
adquirir.
Não sei se
estou a fazer sentido.
A realidade é que fui, até acabei por ir para um
mestrado, tenho a minha pós graduação e a tese está a caminho.
Não me arrependo
de ter ido para a Universidade, cresci muito no processo de conviver com
pessoas e até conhecê-las, e sempre mantive a minha posição que às vezes
perderes uma semana a ler livros, ver documentários e ouvir boa música equivale
a muita licenciatura.
A realidade
é que encontras hoje em dia, senão a maior parte, jovens que se encontram na
universidade por estar.
Vão a aulas,
são despejados conhecimentos e aprendizagens que são decoradas, cuspidas, e
estamos a mandar pessoal para o mercado de trabalho sem paixão ou amor por
aquilo que fazem.
Isso é
triste na minha opinião, com uma única vida por viver e com tantos sonhos
palpáveis que podemos ter, vemo-nos obrigados a escolher caminhos seguros que
nos vão garantir um ordenado apresentável ao fim do mês.
Eu pertenço
a outro grupo de pessoas sabes.
Pertenço aos
miúdos que sempre quiseram representar mas lhes disseram que nasceram em
Portugal, às bandas de garagem, aos escritores incompreendidos, aos pintores,
aos fotógrafos, aos malabaristas de circo e aos corajosos que têm a capacidade
de dizer “não” às zonas de conforto.
Fui educada
por um artista, e por uma professora.
Isso
originou em mim um género de protesto contra a arte mal feita, e ao ensino mal
dado.
Talvez tenha
sido por isso que escolhi estudar Educação Social, porque queria ensinar
através da arte, miúdos que não lhes são dados as referências necessárias para singrarem
num país e num mundo que lhes ensinam desde muito novos, a não quererem
acreditar neles mesmos.
Não te
consigo dar uma referência a nível de escritores que me tenham influenciado,
por mais incrível que pareça acho que a minha forma de escrever vem muito da
música que ouvi em casa.
Talvez a
minha maior referencia seja o meu pai, em algumas alturas isso vem a ser bom,
outras nem por isso.
Cresci e fui
educada por um músico, a minha casa não estava brutalmente bem decorada com
papéis de parede caros e bonitos, estava carregada de posters de músicos que me
influenciaram, tinha livros do chão ao tecto, tinha vinis e CDS que sempre me
ligaram de certa forma, à arte.
Cresci a
ouvir Beatles, Queen, Lep Zeppelin, Bob Dylan, Ninna Simone, Bob Marley, Jimmy
Hendrix, entre outros grandes nomes que acho que me moldaram como mulher e
futura adulta.
Consigo-te
dizer uma data de músicas que ouço enquanto escrevo, mas em termos de
escritores, são raros os que me ligam ao mundo das letras.
O Charles Bukowski
e o Gabriel Garcia Marquez, são talvez os escritores que mais tenho como
referência.
Li com
catorze anos “Memórias das minhas putas tristes”, e lembro-me que no fim
senti-me bem como nunca tinha sentido.
Crescer com
um artista, é bom, torna-te rija.
Por outro
lado é extremamente complicado, o meu pai sempre teve um estilo muito próprio e
uma vontade de viver a viagem dele muito à maneira dele.
Vês as
dificuldades, vês o desprezo com que certas pessoas olham, ouves muitos
comentários negativos e aprendes desde nova a importância que as pessoas dão ao
estatuto social e à aparência.
Lembro-me
numa certa idade ter uma vergonha horrível de o meu pai me ir buscar ao portão
da escola.
Com um carro
antigo, cheio de músicos “freaks” , com os casacos e os coletes antigos, de
chapéus antigos e de guitarra às costas.
Ele dizia-me
“Inês, um dia vais agradecer por não teres crescido com um pai engravato”.
Hoje
agradeço ao Universo por isso, nunca a Deus.
Ter crescido
numa cidade pequena, no Algarve, nunca me impediu de sonhar mais alto.
Fui
constantemente bombardeada para sair daqui, para ir para Lisboa, para ir para
fora, que longe daqui teria mais oportunidades e uma visibilidade diferente.
Falam-me
muito em escrever em Inglês, o que confesso fazer às vezes, mas é na
complicação da língua portuguesa que me encontro.
Eu adoro a
minha cidade, adoro o meu Algarve.
Eu sou o que
sou porque cresci aqui, tenho orgulho em ser Farense.
Foi aqui que
os meus pais se apaixonaram, foi aqui que me apaixonei pela primeira vez, foi
aqui que corri o mundo e conheci as pessoas que me tornaram naquilo que sou
hoje.
Se um dia
tiver que sair daqui saio, mas por enquanto é isto que me dá vontade de viver e
seguir os meus sonhos.
Quero ter os
meus livros, e quero que as pessoas saibam de onde venho, onde vivi, e quem me marcou.
O Quero-te
Inês veio no seguimento de uma vida a escrever, a diferença é que desta vez
decidi partilhá-lo com as pessoas, não porque achei que ia ter este “impacto”,
mas porque sempre achei que se pudesse inspirar pelo menos uma mulher a dizer o
que pensa sem medo de ser julgada, então a minha tarefa estava concluída.
Por incrível
que pareça, recebi ao longo dos tempos centenas de mensagens de mulheres, de
homens. De mães, de avós, de namorados e ex-namorados.
De maridos, de noivas,
de tudo um pouco, a agradecerem-me por ajudá-los em fases menos boas.
Olho para
mim e penso “Como é que uma miúda tão perdida e sem noção do que é, consegue
ajudar pessoas a encontrarem os seus próprios caminhos?”
Talvez nós
andemos todos perdidos, e eu tenha só menos medo de admitir isso.
Eu hoje
estou aqui, amanhã pode-me passar um autocarro por cima, posso ficar doente ou
beber demais e cair pelos degraus a baixo.
Mas pelo
menos, deixei uma marca positiva na vida de alguém, e isso é lindo.
Um dia
escrevi que “Nunca fiz este blog com o intituito de esfregar na cara das
pessoas que estou feliz, mas porque quando cair, quero que todos vejam que é
possível nos levantarmos dos maiores tombos que a vida nos dá”.
Tombo que
vim a dar uns meses depois de ter escrito essa mesma frase, e que me marcou e
me moldou até como escritora.
Agradeço por
isso.
Óbvio que
nem tudo é um mar de rosas, desde que tornei o meu trabalho público que me
deparo diariamente com plágios, com coisas minhas sem identificação, e isso dá
cabo de mim.
Tenho um
livro escrito há meses numa gaveta, e ainda não o encaminhei para nenhuma
editora, porque às vezes penso se será mesmo necessário expor o que sinto, para
mais tarde ser usado e lido por pessoas que não dão valor ao que fazemos.
Que não
compreendem o sítio de onde venho.
Um dia,
claro que o vou publicar.
Não há-se
ser o único, se o autocarro ou o universo o permitir.
Nunca
consegui ter nenhum tipo de lucro com o que escolho publicar, porque há muito
tempo que o Google me “informou” que o meu tipo de linguagem não é próprio para
menores de dezoito anos, e por isso mesmo não poderia pôr publicidade e fazer
com que lucrasse através do blog.
Planos
futuros são a mudança do blog para o site, o que causa muita nostalgia em mim.
Parecendo que não grande parte da minha vida está ali escrita, pelo menos para
mim que me conheço melhor que ninguém.
Mas recusando-me
a mudar a minha linguagem, o passo mais natural é seguir com as coisas de uma
forma mais profissional e adulta.
As pessoas
também têm uma ideia errada de mim, ao lerem-me e depois me conhecerem pensam
que se vão encontrar com uma mulher extremamente depressiva e mal com a vida.
Pensam que
escrevo incansavelmente para alguém que me magoou muito e que não me quer, nada
disso!
Como artista
que penso ser, o meu registo é esse mesmo, mas a minha vida pessoal e a minha
maneira de passar os dias é completamente diferente daquilo que transpareço.
Eu sou alguém
muito positiva, sou sempre a amiga que tenta mostrar o outro lado da vida, a
pessoa que tenta animar as mesas de café.
Gosto muito
de viver, estou constantemente a rir e adoro pessoas com sentido de humor.
Acredito em
almas gémeas, da mesma maneira que acredito que precisas de conhecer pessoas
muito erradas em certas alturas da vida, para um dia saberes exactamente aquilo
que queres.
Não julgo
ninguém, não falo da vida de ninguém, porque tenho a minha para viver, e tenho
tantos planos para mim.
Tenho no meu frigorífico a última folha de um caderno de matemática, em que escrevi “Sou a Inês Alegre e um dia toda a gente vai
saber o meu nome”, isto depois da minha professora da altura me ter dito que
nunca ia ser ninguém na vida, se continuasse com a minha postura de miúda
desinteressada por o que se passava na sala de aula. (sempre odiei matemática)
Pretendo
tornar reais os sonhos de uma miúda, que como tantas, só era diferente e só
queria ser aceite no meio de tanta gente, que nunca lhe disse nada.
“Torna-te
naquilo que te disseram nunca conseguires ser, porque resumido, é isso que
difere quem passa o tempo, daqueles que o vivem”, escrevi eu um dia destes.
Que cada um
tenha a força necessária dentro de si, para ir ao encontro dos sonhos mais
absurdos que temos dentro de nós.
Porque são
esses mesmos, que nos fazem viver.
Se és o que dizes, bem-vinda ao mundo dos incompreendidos e marginais
ResponderEliminaropa... ahahah marginais por dizer o que quer
EliminarLindo
ResponderEliminarOlá Inês. Conheci o teu blog por "acaso" no facebook e confesso que gostei. Concerteza compreendes o porquê. Continua a mostrar-nos o caminho e quem sabe se um dia não faremos o mesmo. Beijinhos e força miúda, afinal dizem que quem tem luz própria incomoda quem está no escuro.
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