O que nós temos é tóxico

No dia em que ele me deixou, metade de mim ficou perdida em qualquer sítio, que por mais que tente e mais voltas dê, não consigo lá voltar. Não sei quantos passos dei para a direita nem para a esquerda, se fui para a frente ou se andei em círculos, mas a verdade é que muito me procurei e nunca mais me vi.
Ele virou-me as costas e não o vi por tanto tempo que pensei mesmo que o tinha deixado de amar. Deixei de acordar a pensar nele, ou a adormecer com a esperança de o encontrar na minha cama. Deixei de associar músicas a momentos, pessoas a alturas, e deixei-me de associar a ele. Ria-me cada vez que sabia de outra rapariga que entrava na vida dele, e ria-me ainda mais alto quando reparava na rapidez com que saía de lá. Esqueci-me de quem fui, por quem chorei ou a quem um dia disse tantas vezes, "nunca te vou esquecer".
Acontece a todos vá lá, quando há uma parte de nós que grita tão alto para nos reerguermos e voltarmos a ser aquilo que um dia fomos, na esperança de um dia, algum rapaz bonito e com boas intenções se cruzar no nosso caminho e nos tirar do buraco em que nos metemos. Tenho a certeza que ele também achou que já não me amava, que o disse em alto e bom som, com os pulmões cheios de ar, mas ao deitar-se a memória que tinha de mim em cima dele, a dizer que ele era capaz de fazer tudo aquilo que ele quisesse, assombrava-o mais que as vozes todas à volta dele que lhe diziam que eu, não era mulher certa para se apaixonar por.
Eu fiquei longos meses de copo na mão, sentada em sítios estratégicos, sóbria, à espera de encontrar qualquer coisa que me dissesse que eu conseguia seguir em frente e que haveria alguém, algures, que não me partiria o coração. Muito me debati eu sobre o porquê de não me conseguir "re-apaixonar" por alguém ou voltar a conseguir dar a mão em público por uma pessoa que morria de amores. Depois compreendi.
Éramos duas almas gémeas, mas cada um muito livre à sua maneira. Eu gostava de andar sozinha, de sentir que apesar de ser incondicionalmente apaixonada por ele e saber que no dia em que ele me deixasse, parte de mim ia-se perder, dizia sempre a mim mesma que esse dia haveria de chegar, e por isso tinha de me habituar que por vezes, nós somos o único conforto de nós mesmos. Tinha de aprender a andar sozinha, a não ter medo, a ter outros números a quem ligar e outros ombros onde chorar. Uma coisa vos garanto, toda a preparação do mundo não me ajudou em nada, porque a realidade é que há quedas que nos seguram ao chão tempo demais.
Eu acredito que haja quem dure para sempre. Mas começámos a namorar tão novos, tão apaixonados, tão diferentes um do outro,que inevitavelmente um dia, o choque ia ser grande demais para continuarmos intactos como pessoas. Destruímos um pouco um do outro, connosco mesmos.
Passado quase nove meses de ter escrito "Adeus amor", nada em mim mudou. O meu coração continua partido e as minhas pernas ainda não sabem a direcção que tomar. A grande diferença é que me habituei , e embora já me tenha doído muito, hoje é só mais uma cicatriz que tenho guardada em mim. O tempo não cura nada, e deve estar furibundo de o usarmos sempre como remédio. A realidade, é que só esquecemos uma pessoa, quando outra ocupa o lugar que ela deixou. Não usar ninguém é bonito mas é complicado, e por mais bonitos sorrisos que façamos ou mais amabilidade que tenhamos no nosso coração, há momentos da nossa vida em que somos egoístas e fechamos portas na cara das pessoas que gostam de nós, porque é a única maneira de sentirmos que afinal, não somos tão "moles" quanto isso. O que acontece, é que nos esquecemos por vezes que nós, somos o "outro" visto de fora.
Um dia vou voltar a escrever com o coração cheio, só não vai ser nos próximos nove meses.
Beijo dos nossos, no coração.


Comentários

  1. Muito bom! =) espero que seja apenas uma história! =)

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  2. o mesmo tempo que eu, o mesmo sentimento que o meu... lindo texto!!! (':

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  3. Antes de aqui vir estava a pensar "se uma dia já fomos um, agora voltei a ser metade. Quando soubemos o que foi ser cheio, quão difícil é vivermos pla metade novamente? Será que ela já escreveu mais alguma coisa?". Depois vim aqui e li a tua primeira frase... coincidência!
    Sendo história ou não, é exatamente aquilo que sinto.
    Obrigada!

    (Ass:uma outra inês. )

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    1. Nós "Ineses" temos um jeitinho para sermos demasiado sentimentalistas em relação ao amor :) Sou uma má contadora de histórias mas relato bem o que se passa comigo, por isso coincidência ou não, somos duas Inêses que passamos pelo mesmo. Um beijo ;)

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  4. A minha ex namorada chama-se Inês, namoramos 9 meses e conhecendo-a bem como conheço, sentindo e apercebendo-me de certas coisas, esse texto simplesmente encaixou na perfeição. Nem sei o que dizer ou pensar. Fizeste-me recordar bons momentos passados! Recordar uma fase muito boa da minha vida. Mas infelizmente não passa disso, passado... parabéns :)

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  5. Mais um texto em que o leio e parece que sou eu a "pensar", a "falar"... Obrigada por te exprimires assim e por me fazeres sentir um pouco acompanhada nestas vivências...
    É estranho, mas é de certa forma reconfortante saber que há mais gente que passa pelo mesmo e que não sou eu que sou "anormal"... Passaram quase 7 meses e eu ainda ando agarrada sabe-se lá a quê... Mas vejo que não sou a única :)
    Quando nos mostras o texto do mês de Abril? :)

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