Júpiter

Hoje decidi não começar pelo titulo. Normalmente tenho sempre uma ideia feita dentro da minha cabeça daquilo do que quero escrever porque algo me aconteceu. Seja no coração, seja no dia, seja dentro ou fora de casa, com os meus ou com outros, gosto sempre de escrever. Acho que todos aqueles que se consideram escritores, que gostam de escrever ou de ler, fazem-no sempre para se afastarem realmente da realidade que os rodeia.
Tento não ser assim, não me importo quem leia ou deixe de ler os meus textos, os meus dias, os meus sentimentos ou de amigas e conhecidas minhas, acho que tudo ajuda tudo.
No outro dia quando vim aqui escrever umas coisas sobre o dia dos namorados, não cheguei a dizer o que a mim me realmente aconteceu. Tive toda aquela pujança de escrever que o dia dos namorados era um dia vulgar e que as pessoas aproveitavam esse mesmo dia para serem aquilo que não são o resto dos 364 dias do ano, exactamente igual à conversa que tínha tido com o meu namorado na noite anterior. Só combinámos estar juntos, dormir juntos, jantar juntos... Em coisa mais fácil, "dar graças àquilo que temos". E na realidade quando lá cheguei e me apercebi que a única coisa que tinha era um cozido à Portuguesa que a mãe dele tinha deixado, fiquei com uma raiva tão enorme dentro de mim que meti a minha maior tromba e armei ali uma discussão silenciosa e um luto a favor de rosas. No dia dos namorados, vejam só. Depois de ter as minhas ideias tão convictas sobre o mesmo assunto. Tiro logo uma conclusão daqui, nós mulheres queremos normalmente o oposto daquilo que dizemos. Faz sempre bem ter um pouco de "Romeu e Julieta" na nossa vida. Um facto é que depois de ter sabido que vários namorados deixaram as Julietas em casa para irem sair, enquanto que o meu se deitou ao meu lado e ouviu-me praguejar uma noite toda, e ainda passado uma semana chegou uma encomenda de um colar em forma de coração que tinha encomendado para mim mas que não tinha chegado a tempo, tive vontade de me estrangular a mim própria. É uma vontade que me dá várias vezes ao dia, quando não digo o que penso, quando acordo de mau humor já que sou uma pessoa naturalmente bem disposta, quando compreendo que exigi muito quando dei pouco, coisas assim.
O Luís tem a mania de se chatear porque eu não sei cozinhar, ou porque finjo estar doente na cama sempre que é altura de ir preparar ceias ou ir desligar a luz.
Eu chateio-me com ele porque ele não gosta de ler, nem pensa mais à frente daquilo que realmente pode. Daqui poderíamos entender que ele poderia seguir o ramo da culinária, e eu poderia ler e escrever pelos dois... mas complicamos sempre o fácil.
Nada vem em pratos de ouro, nada nos é servido fácil, e acredito que tudo o que passamos na vida, ou vemos passar, é realmente a única lição que esta nos pode dar. Não a conhecemos, nunca lhe vimos a cara, mas sabemos que estamos cá.
Quando era míuda e me perguntavam se acreditava em Deus, eu dizia que sim, que o meu era a "Natueza". Disse essa palavra tantas vezes que acabava por acreditar que as árvores falavam comigo e que enquanto viajava pela costa algarvia que era o mar que vinha atrás de mim, e não eu que estava de passagem por lá.
O meu pai dizia-me umas quantas vezes, tal como o meu avô, que "hás de partir tantos corações".
E agora dou por mim com quase vinte e um anos cheia de medo que alguém me parta o meu.
 Eu , e arrisco as minhas amigas, passámos grande parte da nossa vida concentradas em nós, a gritar, a rir, a passar de nariz empinado, a cantar aos berros, a incomodar os outros, que aquilo que acontecia em nosso redor, fossem desgostos ou azares, na nossa praia não ia calhar ondas dessas.
Hoje não suporto a ideia que alguém lhes parta o coração. Ou o meu.
Havia uma deusa, que agora me está a escapar o nome, da Mitologia Grega, que viu o homem partir para a Guerra, e esperou centenas de anos, e enquanto esperava, tecia-lhe uma manta ou qualquer coisa do género e sempre que acabava, desfazia e voltava a tecer para todos os homens compreenderem que ela ainda se sentia apaixonada e ia esperar por ele.
 Quando ele voltou, não a reconheceu, a cara estava diferente, não era a mesma rapariga, os anos tinham-lhe passado pela cara. Ou seja.. de volta ao mundo real, não devemos esperar por "Por ti, eu mudo", mas sim "eu sou diferente".
Acho que brindámos tantas vezes "A nós, a eles, a nós por cima deles, homens conhecê-los, nunca amá-los mas fodê-los" que ou Júpiter ou Saturno ficaram fartos de nos ouvir e mandaram uns azares cá para baixo.
Mas não tem mal.
As mulheres nunca querem realmente o que dizem. Pode ser que se enganem.

Comentários

  1. Olá Inês

    A história que falas no fim (caso não te lembres ainda) é a de Ulisses , a mulher que tecia era a sua a Penélope.

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