Aprender a Perdoar.

Nós as mulheres, somos bichos e personagens demasiadamente estranhas e por isso compreendo muito os homens quando me dizem que "Não consigo mais" . Temos dias, temos momentos, e temos vários momentos dentro de vários dias, que todos juntos fazem apenas um. As coisas não são fáceis para nós, desde muito novas que aprendemos a lidar com o amor das melhores e das piores formas, e temos maneiras excepcionais de nos iludirmos e de deixar que nos partam o coração. Somos excelentes a dar conselhos ás nossas melhores amigas, mas nunca os conseguimos aplicar a nós. Há sempre fases das nossas vidas, em que rastejamos de tal forma aos pés de algum rapaz, que os joelhos tornam-se demasiado pesados para aprender a confiar a andar ao lado de outro alguém.
Há sempre um homem, algures, com um jeito diferente, um olhar engraçado e uma mão cheia de palavras que nos transmite confiança, que nos deixa mais cegas que qualquer outro animal no mundo. Nós sabemos, sentimos, já lá estivemos, já fizemos a outros, e sermos enganadas passa-nos ao lado como um comboio gigante e velho, que faz imenso barulho e nos deixa incomodadas, mas depois deixa de se sentir. Já foi, ficou lá atrás, já não nos apanha e calou-se de vez.
Isto só acontece quando estamos realmente apaixonadas por alguém, e pior espécie do que uma mulher que está apaixonada e sabe tudo mesmo sem saber, é a mulher que já esteve apaixonada e deixou de ter algo a perder. Vejo muitas na noite. Já pertenci e ás vezes ainda faço parte do clube delas, todas tão bonitas e tão bem arranjadas, cheias de sorrisos, com um brilho qualquer, a fazerem-se passar por algo que não são, a emitirem sinais que não sentem, e emoções que já não nascem dentro delas. Não são "as cabras" como os homens as costumam de apelidar, são as que se cansaram de ser tudo para quem não lhes deu nada.
O ódio é a pior coisa que pode resultar do fim de uma relação, não porque é feio e nos mete más, ou porque nos faz dizer palavrões em plenos jantares de família ou a fumar cigarros em pausas de nada, mas porque quem odeia o ex-namorado, tem mais probabilidades de acabar na cama com ele do que alguém que o ama de forma leve e de longe, sente saudades do que passou, mas ama mais a ideia de voltar a dar a mão a alguém do que se deixar ficar na maré do "diz que disse". Odeio essa maré, aconselho vivamente a saírem todas e todos de lá. Não dá nada a ninguém. Só cornos imaginários e noites mal passadas.
Por isso sendo nós mulheres, com uma capacidade de memorização inacreditável, com mil e um planos na nossa cabeça, e umas peritas em nos martirizarmos por as nossas relações falhadas, como aprendemos a perdoar alguém que nos magoou, ou até mesmo nós próprias por termos magoado quem amamos?
Não é fácil mas é simples. Desde muito novas que estamos rodeadas de exemplos que precisamos de cair fundo para nos aprendermos a levantar e a olhar para onde colocamos os pés. O fogo queima, mas todos fomos lá com o dedo, ou brincámos com o isqueiro debaixo da mão até compreendermos que há dores que não se devem repetir. Não conseguimos respirar debaixo de água, mas competimos contra nós próprios quanto tempo conseguimos suster a respiração, caso um dia seja necessário tal perícia.
Existem tantos divórcios, tantas relações a acabar, tantas traições e tantos casos que acabam mal, mas precisamos de entrar num, precisamos de magoar e de sermos magoadas, de sermos deixadas e passar tempos e tempos sem acharmos piada a uma única pessoa, para compreendermos que o amor não se vende ás postas, e que um dia vamos escolher melhor a quem damos o número de telefone ou a quem sorrimos, sem nunca nos ter feito nada que nos fizesse realmente felizes.
Se a vida é uma passagem, então magoar e ser magoado está inevitavelmente inserido nela. O que distingue as que têm pinta das que têm de a ir comprar, é a forma como um dia contamos esses tombos aos nossos irmãos, aos nossos filhos, ou a forma como sorrimos novamente para o nosso ex-namorado quando lhe explicamos que a vida tem sido complicada, mas que por muito complicada que seja, teve de ser porque só assim poderíamos aprender que erros, nem sempre são erros nas nossas vidas. Ás vezes é só a vida a dizer-nos que temos de voltar atrás, para aprender de novo.

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