Ela era poesia.

Ela era louca. Louca à maneira dela, diferente de todas as outras. Foi isso que me fez saber que me ia apaixonar por a miúda. Só de a ver ao longe cheirava a aromas de tentação. O andar, o toque, o sorriso e o peito. As palavras, os livros, a desarrumação na mala, e o cheiro a erva. A forma de estar e pensar. O "até logo" que dizia em vez de "Adeus". O desprezo por o que não conhece, a tesão por o que quer conhecer.
Completamente louca, desequilibrada, com um olhar fora do normal e um sorriso ingénuo de mulher que sabia o que se passava à volta dela, mas fingia não saber.
Nunca dizia que sim nem que não. Deixava-se ficar quieta quando a vida lhe metia qualquer tipo de tentação à volta, porque para ela, ela era a única pessoa por quem valia a pena perder a cabeça.
"Primeiro eu", sempre que um homem lhe perguntava o porquê de não querer dar a mão a mais ninguém, sem ser ao pai.
Não sabia se já se tinha apaixonado de verdade, então não correspondia a amores pequenos. Procurava aquela merda de Hollywood...Aqueles romances típicos que nos fazem vomitar,  mas que com ela ia sempre meter noites meio passadas, e idas ao banho em Março.
Só tocava em quem achava que um dia, fosse possivelmente os pais dos filhos dela.
Então sempre que a vida lhe passava uma rasteira, ela escolhia nunca cair, mas sempre ir por caminhos mais estreitos. Desafiava o azar com o sorriso mais bonito de sempre.
Raios parta àquela miúda que conheci numa tarde normal, num dia banal como eram todos os meus até aí.
Mulher tentadora, que desafiava o Karma e sorria cada vez que se magoava. Se houvesse Diabo e Deus, iam os dois gostar dela, porque o bem estava dentro dela, da mesma maneira que o mal lhe entrava no corpo sempre que alguém lhe dizia que não era o caminho certo a seguir.
"Que se foda o que os outros pensam ou acham" , era o que ela respondia sempre que alguém lhe tentava mostrar o demasiado óbvio. "Não quero saber", "Não me importo", "Eu faço o que quero, e o que gosto".
As mulheres tinham algum receio dela, os homens não sabiam se a queriam ou se a odiavam.
É que ela representa o "talvez" na vida de qualquer pessoa. "Talvez fique", "talvez me ame", "talvez só me diga isto a mim", "talvez nunca mais me diga nada amanhã de manhã".
Sabes, é que ela não agrada a todos. Ela não fica na cabeça de todos. Ela apaixona-se por almas, só depois é que vê o corpo. E as que são puras e pouco indrominadas passam-lhe ao lado como as estações do ano.
Quanto mais complicada a alma, a situação e a sanidade mental da pessoa, mais ela se apaixona.
Mulher do seu corpo, menina do seu nariz.
Está destinada a grandes coisas. Vai correr o mundo com a mochila às costas, e quando o homem possivelmente certo e estável lhe aparecer à frente, ela vai-se rir e dizer que anda à procura de uma coisa diferente. Vai olhar para ele e não vai querer sequer uma chamada, uma mensagem ou uma conversa de café. Não gosta de pessoas calmas por dentro, nem de gente certa ou que não diz barbaridades de vez em quando.
Vai ganhar a fama de escolher os homens errados e não ouvir o que a mãe lhe tentou incutir durante tantos anos na mentalidade, que foi ela que criou.
Aos dezasseis anos saiu de casa porque achava que estava a ficar com a alma estagnada. Bateu à porta da melhor amiga de mochila, cabelo loiro apanhado de lado, e disse-lhe que precisava de viver com alguém que falasse com ela por pensamento. E a partir daí, criou-se a ela própria.
Deixou de acreditar no amor puritano e sábio, que viu em casa entre os mais velhos. O amor calmo e normal dava-lhe nervos e corroía-lhe a alma. Acordar todos os dias deitada dava-lhe comichão. A ideia de uma cabana e fruta dava-lhe vómitos.
Ela queria acordar na praia às vezes, em cima do capot do carro ou numa tenda num sítio qualquer. Queria almoços à noite, pequenos almoços de tarde, e fumo dentro do carro. Queria beijar com sabor a Jack Daniels. Queria roupas rasgadas e promessas idiotas. Não daquelas de "Vou ficar contigo para sempre", mas daquelas que "Amanhã vamos acordar e o quarto vai estar todo partido".
Ela queria alguém tão improvável, que na cabeça dela era o mais real que conseguia imaginar.
Sempre que era de noite e se abraçava a ela própria porque cresceu a aprender que não precisava de mais ninguém sem ser do toque dela, olhava para o nada e pensava na pessoa que um dia, numa vida distante da dela e com uma mulher que não era ela, lhe iria dar a mão e mostrar-lhe que ainda era possível sentir mais loucura, do que aquela que lhe corria nas veias.
Senão a conhecesse não acreditava que ainda sobravam mulheres assim. Bonitas, selvagens e com vontade de devorar meio mundo na defesa que o amor, só podia sê-lo se fosse sem sentido e sem futuro.
Ela era poesia. Não se apaixonava por caras. Não se apaixonava por nada. Apaixonava-se por tudo. Ficava com almas. Inferno. Paraíso. Mulher mais louca. Mulher mais livre.



Comentários

  1. Se a pessoa que amas fosse tudo o que sempre quiseste, a tua reacção seria a mesma de um alpinista que chega ao topo da montanha: uma sensação de orgulho e contentamento momentâneos, de uma conquista que será sempre lembrada mas que terminará ali, porque, afinal de contas, não há mais para subir.
    Deves querer muito, mas não tudo. Porque o tudo tira-nos o direito de buscar.

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  2. A tua loucura , e a tua beleza (ou beleza louca) são poesia.

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  3. O teu jeito de escrever é tesão e erotismo. Simplesmente linda

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  4. Não acho que ela queira tudo, acho até que quer o normal, num mundo desanormal que vivemos... Há muita gente louca e inteligente. É uma questão de tempo... E admiradores não faltam. Um beijo

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  5. Mulher tentadora, que desafiava o Karma e sorria cada vez que se magoava. Se houvesse Diabo e Deus, iam os dois gostar dela, porque o bem estava dentro dela, da mesma maneira que o mal lhe entrava no corpo sempre que alguém lhe dizia que não era o caminho certo a seguir. -> AMEI ÉS TOP

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  6. És grande princesa. Sempre foste. Sempre hás-de ser.

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  7. Tão bom, vais ter futuro. Louca ou não. Lindíssima escrita!

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  8. "QUE SA FODA" algarvia marafada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  9. És especial, no mínimo.

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  10. Quem te viu e quem te vê. Da Inês que me lembro só continua o jeito de ser estranho e o amor pelas amigas. Vocês cresceram mesmo muito, todas juntas. tenho uma coisa para te perguntar? Escreves também sobre elas não é? É que ás vezes fico na dúvida, parece-me que sim. Um dia vou à Fnac ver-te lançar o novo livro. Beijo

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  11. Não dás mesmo o número... da ultima vez que tentei levei c uma mini em cima. vida triste...

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    Respostas
    1. opa AHAHAHAHAH a alegre é demais

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    2. quem a toma por princesinha... olha que voam uns copos e umas cadeiras.. cenas de algarvios Phahahahahahahaha

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  12. https://www.youtube.com/watch?v=Na8QYs10wY8

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