Amor psicótico.

A alma dela era livre.
Livre até certo ponto, porque por mais que lutemos pela ideia que pertencemos só a nós mesmos, um dia chega alguém que nos puxa o tapete e o tombo ecoa tão alto, que as nossas pernas durante muito tempo, esquecem-se do caminho certo a seguir.
Ela lutava por aquela ideia, de edições limitadas. Amou uma única pessoa, e mesmo assim punha-se em posição de segurança sempre que falava em amor, porque dentro da cabeça dela, o amor verdadeiro ainda estava por aí. Tinha que estar. E sempre que o imaginava no pensamento, era música e gritos que lhe passavam pelos ouvidos. Eram noites mal passas, choros mal resolvidos, amor louco e psicótico, daqueles que nos consomem por dentro, e sexo marcante. Daquele que nos faz nunca mais, querer deitar a cabeça num outro peito qualquer. Daquele que cada vez que nos lembramos, sorrimos sem motivo. Sem nojo e sem pudor, porque para ela o homem da vida dela, representava tudo aquilo, que ainda sobra de puro no mundo.
Puro. Corrompido por situações alheias e de pouca fé, mas um homem puro. Era assim que ela o pintava, nas noites em que sozinha, aprendeu a gostar só da companhia dela.
E se à primeira impressão não lhe parecesse alguém perdido à procura de ser encontrado, então voltava a baixar a cabeça e a falar com ela mesma.
Não se arrependia de nada, nem dos momentos piores ou menos bonitos que a cabeça inconstante lhe tinha feito passar, porque até esses mesmos momentos ela acreditava que a iriam levar, à pessoa que um dia, a ia fazer dar mais do que aquilo para que tinha nascido.
Não tinha nascido para casos de uma noite, nem para conversas aleatórias. Não falava com quem não gostava, e sorria a muito pouca gente. Não pertencia ao grupo normal de mulheres que se entregavam cedo demais. E mesmo quando se entregou em tempos certos, duvidava se tinha sido importante ao ponto de puderem usar o nome dela, em conversas de café. 
Não abria a porta do quarto a quem não gostasse, e não dormia com alguém que não soubesse ter uma conversa tão boa, que a fizesse preferir falar uma noite toda, do que queimar calorias. Não pertencia a lugares normais, nem a pessoas banais.
O ex-namorado dela falava mal em situações que deveriam ser de respeito, e por isso conseguiu continuar a amá-lo, da mesma maneira que se ama um irmão mais velho. Conseguiu dizer-lhe o tipo de homem que queria, enquanto ele lhe sorria e passava-lhe a mão na testa "Sempre foste louca, mas com o tempo ficas mais bonita.".
Para ela um encontro que acabasse com uma cerveja partida na cabeça de alguém, tinha mais piada do que namorar debaixo da Torre Eiffel. Odiava Clichés. Odiava que lhe dissessem o que esperava ouvir. Gostava de surpresas, fossem elas quais fossem. Gostava de saber que nada era garantido, porque só assim lutava por algo que dentro dela, sabia que não ia resultar.
Quanto menos parecesse certo, mais ela piscava o olho ao Diabo.
Não era mulher de dar o braço a torcer no que dizia respeito ao amor. Amava muito e falava pouco. Certas coisas ficavam só para ela, mesmo que se engasgasse às vezes.
Era a ovelha negra da família, e por isso a preferida. Continuou as pegadas do pai, de fazer aquilo que quisesse, mesmo que isso implicasse esquecer o que era ser normal e deitar-se a horas certas.
Quando se tratava de amor verdadeiro, preferia cair e lixar a alma e o ego, do que ficar parada à espera que as opiniões das pessoas alheias, a comessem por dentro.
Preferia sofrer por decisões próprias, do que sorrir por nunca ter tentado.
Nem que isso implicasse mil e uma noites em branco na cama gigante dela, sozinha, cheia de copos vazios e soluços nos ouvidos.
Tudo compensa, quando há sentimentos à mistura. E mesmo que fosse para lhe ensinar da pior maneira, e ela no intimo soubesse que a batalha era mais longa do que a armadura que tinha, ela jogava-se de cabeça contra a ideia que, a vida deveria ser calma e as lutas evitadas.
E fodasse, se ela lutava.
Ela era desse tipo de mulher. Daquela espécie rara, que quer viver tudo num dia, para o amanhã lhe saber a pouco.
E até hoje, nunca soube o que são metades.



Comentários

  1. Não consigo parar de olhar para as tuas fotos... por mim até podias escrever só merda mas essa cara... fds. Mas vá, escreves bem. Muita sorte louca.

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  2. Fazes-me lembrar um bocado a Lana del Rey ainda não sei porquê.

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  3. "Quando se tratava de amor verdadeiro, preferia cair e lixar a alma e o ego, do que ficar parada à espera que as opiniões das pessoas alheias, a comessem por dentro.
    Preferia sofrer por decisões próprias, do que sorrir por nunca ter tentado.
    Nem que isso implicasse mil e uma noites em branco na cama gigante dela, sozinha, cheia de copos vazios e soluços nos ouvidos.
    Tudo compensa, quando há sentimentos à mistura." FODASSE !!!!!!!!!! APLAUSOS

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  4. "E sempre que o imaginava no pensamento, era música e gritos que lhe passavam pelos ouvidos. Eram noites mal passas, choros mal resolvidos, amor louco e psicótico, daqueles que nos consomem por dentro, e sexo marcante. Daquele que nos faz nunca mais, querer deitar a cabeça num outro peito qualquer. Daquele que cada vez que nos lembramos, sorrimos sem motivo. Sem nojo e sem pudor, porque para ela o homem da vida dela, representava tudo aquilo, que ainda sobra de puro no mundo.
    Puro. Corrompido por situações alheias e de pouca fé, mas um homem puro. Era assim que ela o pintava, nas noites em que sozinha, aprendeu a gostar só da companhia dela." tás a dar-lhe muito, daqui a nada tás na Fnac.

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  5. Bonito texto. Bonita mulher. Bonitas atitudes.

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  6. Para primeiro encontro partir uma cerveja na cabeça de alguém parecesse-me bem. Talvez acabes com um motard todo tatuado e todo fodido, mas que te ame na mesma. Aliás, quem é que seria capaz de não te amar...

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  7. Já disse e volto a repetir, és uma relíquia.

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  8. Adorei a tua maneira de te expressares, tenho pena que hoje em dia, a vida seja feita de desabafos virtuais que não alteram em nada a maneira de ser de cada um de nós. Mas também tenho que te dizer, que as tuas palavrinhas, são do mais doce que já li, todos nós acabamos por ser felizes... o amanhã é incerto..... beijo

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  9. Não consigo acreditar no que dizes, a mim soa-me a bom demais. É irreal, não existem pessoas assim. Mas se o fores, olha good luck. Vais ainda ter que passar por muito.

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  10. És linda. Por dentro, e por fora.

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  11. http://sobrevivercomigomesma.blogspot.com/

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  12. anaaraquellg.blogspot.pt

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